Fernando Cyrino
Equipes não são nada simples, mas são fundamentais em um ambiente de negócios cada dia mais competitivo.
Falava sobre a necessidade fundamental, nesses tempos de crise, de se trabalhar com equipes, quando fui interrompido pela gerente de RH. “Mas professor, sem dúvidas que é muito bom que tenhamos equipes. Elas fariam com que nossos resultados fossem mais expressivos, mas a questão é que você não conhece o nosso pessoal. Ele é fraco. Se pelo menos tivéssemos por aqui gente mais capacitada, aí sim, teríamos grandes times e nos beneficiaríamos deles.”
Na mesa todas as cabeças se viraram de imediato para mim aguardando o que eu teria a responder àquela, mais que justa, provocação da gestora de pessoas. Falei-lhe, de jeito mais simples que agora, de cinco pontos:
1 – Equipe dá trabalho, é exigente demais, ao contrário dos grupos que agem a partir de comando e para isto estão sempre em atitude de obediência. Com os times o processo de trabalho não funciona assim. Eles estão sempre esticando a corda da liderança. Exigirão mais do gerente, o que acarretará, consequentemente, que se exigirá mais também do RH. Este terá que trabalhar mais. Veja que, quando se cria a diretriz de que se trabalhará a partir de equipes, a primeira coisa a ser feita será a atualização das políticas e procedimentos de pessoal. Essas necessitarão serem atualizadas, eis que costumam estar focadas muito mais no desempenho individual. Criar equipes com ferramentas individualistas será no mínimo esquisofrênico. Para se desenvolver times é preciso repensar mesmo a ferramenta de Avaliação de Desempenho. Essa deverá mirar, muito mais do que a pessoa, o time como um todo. Têm-se a consciência de que as políticas de RH podem ser facilitadoras, ou dificultadoras para a criação de equipes?
2 – Equipes não brotam simplesmente por causa da expectativa do dono, de alguma definição estratégica, ou porque a as lideranças assim o desejem. Elas necessitam bem mais do que a simples vontade para que se desenvolvam, se tornem fortes e se perenizem. É fundamental que a organização disponibilize os meios para que cresçam. Estruturar equipes não é atividade fácil. Elas geram questionamentos, fazem com que conflitos ocultos por sob o tapete saiam para fora, buscam liberdade e autonomia e tem muito gestor que tudo que mais deseja é que isto não ocorra. Detestam questionamentos, escondem os conflitos e oferecem pouco espaço de participação. Ter gestores centralizadores, pouco dispostos a escutar e fechados em seus cargos de chefia são indícios de que não estão sendo postos os meios para que os times se desenvolvam. Quais meios têm colocado para que haja equipes na organização em que trabalham?
3 – Equipe é investimento e não custo. Não dá para formá-las sem que haja dinheiro, tempo e atenção investidos. Claro que se ela é investimento será porque se está trabalhando na crença de que haverá o efetivo retorno. Há que se investir em desenvolvimento das pessoas. Grupo não precisa ser treinado. Afinal grupo, por definição, é algo que não cresce. Ele existe, simplesmente, para manter o status quo. Equipe, ao contrário, como está sempre caminhando em direção ao mais, é exigente com educação e treinamento. Ela está sempre em prontidão para azeitar seus procedimentos, inovar, aprender coisas diferentes, testar novas maneiras de funcionar e isto sem dúvida que necessita de dinheiro e disposição. Como o orçamento reflete a opção pela equipe na empresa?
4 – Contratar uma equipe de craques no mercado, principalmente quando em tempos de crise, é fácil. Só que isto tem um custo e este costuma ser alto. Gente boa e pronta não é barata. E mesmo que se invista nessa linha é preciso ter em mente os riscos. Será que juntos esses craques funcionarão mesmo como time? É só reparar um pouco nos esportes, por exemplo, para se ver que não necessariamente isto irá ocorrer. Caso venham com vícios e expectativas individualistas, eles jamais se desenvolverão como equipe. É bastante cômodo se trocar as pessoas, mas será que aquelas novas que virão para os seus lugares, serão realmente melhores do que as que foram sacadas? Além do mais gente pronta pode vir com culturas e posturas que não são condizentes com as existentes e desejadas. Qual a opção a ser seguida: contratar, ou formar equipes?
5 – Quem forma equipe é o líder, elas jamais têm geração expontânea. Gestor que anseia por ganhar, de mãos beijadas, uma equipe foge de um dos seus papeis primordiais: ser formador. Afinal, receber equipe já estruturada torna mais fácil o começo do gerenciamento, mas aumenta os riscos também. Imagine receber uma equipe azeitada e com grandes resultados e não conseguir manter a sua curva de crescimento. Com certeza que o líder numa situação dessas será visto como culpado. Pegar time pronto é fácil, agora, ser reconhecido como formador de equipes é algo bem distinto. Com certeza que neste ponto se encontra o diferencial da liderança. Qualquer manual mostrará que um dos papeis primordiais do líder é ser educador e o mestre tem como missão, simplesmente, tornar as pessoas sob a sua influência e gestão melhores do que ele. Os líderes na organização formam as pessoas para o crescimento e para serem equipes?
Ah, e antes que me esqueça, ou que me perguntem. Essa gestora de RH me autorizou a escrever sobre o que conversamos naquele encontro.