Carmen Cyrino
A participação mais efetiva da mulher nos espaços organizacionais está trazendo mais cuidado e afeto às relações de trabalho
A mulher nasceu livre. Entretanto, ao longo da história, foi submetida a gaiolas. Algumas construídas de ouro, outras do pior metal, ou mesmo de lascas de madeira. Crescia adquirindo conhecimentos sobre prendas domésticas: cuidar de casa, filhos e marido e por vezes tendo que se fazer de cega, surda e muda. Seu mundo girava em aprender a lidar com o que era tido como do lar, do doméstico, do simples, do banal, como se tudo fose fácil de se “domesticar”. Era uma peça de decoração com funções próprias exigidas pelo mundo masculino.
Poucos são os eventos na história nos quais a mulher tenha sido colocada como protagonista. Na maior parte das vezes ela nem era citada. Como se não existisse. O mundo se esquecia de que o seu nascimento e humanização foram literalmente esculpidos pela mulher.
E foi por necessidade masculina e não por desejo próprio, que ela se insere no mercado de trabalho. Entrou como cuidadora e submissa. Bem mais como prestadora de serviços voluntários do que profissional. Enfermeiras subordinadas aos médicos. Além de força de trabalho de chão de fábrica no esforço produtivo de material bélico. Acabada a guerra elas se mantêm nas fábricas para proverem o sustento da família. Acabam ganhando um dia no ano – 8 de março – para celebrar o “dia da mulher”. O dia em que mais de cem mulheres foram mortas num incêndio dentro de uma fábrica, porque reivindicavam melhores condições de trabalho e salário.
Muita coisa mudou. Hoje temos mulheres em altos cargos, inclusive a presidente do nosso país. Entretanto acontece por vezes se travestirem de homem, como se somente assim pudessem fazer parte do mundo corporativo, ainda bastante masculino.
E quanto ao tempo da mulher? O dia é pequeno para quem quer se sentir realizada profissionalmente, mas que quer ter filhos e uma família com um homem que ainda não se entendeu além da função de provedor. Entretanto submete-se a uma jornada de trabalho distanciadora do convívio familiar e social. Esquece que tem desejos, quer amar e se sentir amada, além De realizar-se profissionalmente. Nada disto tem sido fácil, mas a partir do momento em que consegue entender que é a dona do próprio corpo, passa a compreender que o tempo também lhe pertence.
Num mundo plano, totalmente globalizado, as empresas ainda precisam adaptar-se melhor às necessidades da mulher. Cuidando mais e melhor delas, que se constituem hoje em praticamente a metade da força de trabalho, haverá significativo aumento no clima, comprometimento e resultados. Ao cuidar delas a organização estará também cuidando de si mesma.
Um amigo, o colombiano padre Leonel Narvaez, sociólogo, mediador em conflitos e criador da Metodologia EsPeRe – Escolas de Perdão e Reconciliação, diz que o mundo só pode se transformar pela ternura e pela “palavra doce”, características da mulher. Será crescendo na sensibilidade, no cuidado e na “palavra doce” que o masculino deixará transparecer a ternura.
O mundo masculino é de muitas disputas, guerras e revoltas. A mulher precisa tomar consciência de que para participar dele não será necessário se igualar, mas complementar-se, trazendo junto com ela a ternura. Agindo assim haverá nos espaços organizacionais mais cuidado, afeto, espírito e emoçao.