Em meio à pressão de tempos tremendamente agitados, há sempre, oculto em meio a tantas mensagens, o convite à parada.
Em meio à pressão de tempos tremendamente agitados, há sempre, oculto em meio a tantas mensagens, o convite à parada. Sim, na aflita correria é necessário que se estacione por uns momentos à beira da estrada. Não para se permanecer quieto, ou reclamar da dura realidade, mas para ganhar força e competência, recarregar as baterias para se seguir adiante de maneira mais eficaz.
O líder é cobrado a entregar resultados cada dia mais rapidamente e para isto, paradoxalmente, precisa de um “pit stop” de vez em quando. Na pós modernidade VUCA* o trabalho vai se tornando uma sucessão avassaladora de eventos e, se não fizer um retiro, bem poderá ser que entre em um ativismo desenfreado, gerando mais movimento e menos serviços e produtos. A verdade é que se corre demais e não é nada raro que ao se chegar no final do dia, se constate que se acordará na manhã seguinte devedor. Faltaram horas. O tempo não foi o bastante para o tanto de coisa programada.
Nessa correria insana, uma das paradas é para se questionar se acaso o líder está realizando a “coisa certa”, ao invés de fazer certo a coisa relevante como gestor: fazer com que as coisas aconteçam, afinal, é ele o grande responsável pela execução. A verdade é que se corre muito e não é raro que se permaneça no mesmo lugar, conforme o coelhinho da Alice, em sua sabedoria, ensinava.
Nessas paradas a escuta da equipe é importantíssima. Ela observa seu líder, conhece-o, em suas fortalezas e fraquezas, muito mais do que ele imagina. A escuta gera proximidade e essa traz em seu bojo a confiança. Mais confiante em seu time, mais ainda se poderá exercer a delegação, gerando espaço na agenda (em meio à tempestade) para que possa cuidar da sua real atribuição de gestor.
Escutar é uma arte e, como todas elas, seu desempenho, em nível de excelência, demanda treinamento. Escutar não é simples e muito menos automático. O que é simples e fácil é ouvir. Ouvir é aquilo que se faz enquanto se vai realizando outras tarefas. Ouve-se dividindo a atenção e, muitas vezes, nem sabendo o que adentra os ouvidos. Para ouvir, se utiliza o aparelho auditivo e não deixa de ser interessante de observar que aquilo que se nomeia como “aparelho”, costuma ser tecnológico. Por isto, ouvir é frio, é técnico – tecnologia - e assim não compromete os liderados.
Quando se ouve costuma acontecer uma dessas três possibilidades:
1 – Bloqueia-se aquilo que está sendo dito, impedindo que adentre o aparelho auditivo. É como se um imaginário tampão, de repente, fechasse o canal auricular. Tantas cosas são ditas e não são captadas.
2 – A informação até entra, mas o problema é que lhe falta o registro. Ela, tal qual um raio que passa, invade um ouvido e, da mesma forma que veio, sai pelo outro. O exercício de se fazer uns minutos de silêncio e se postar atento, irá demonstrar essa realidade. Não raro acontecerá a surpresa de ter se observado o tanto de sons acontecendo à volta (bem como também no interior do próprio corpo) e que não costumam serem percebidos e “cadastrados”.
3 – Os dados chegam, entram pelos ouvidos e ficam rodando na cabeça. O “disco rígido” cerebral até os registra, mas não os utiliza com vistas a alguma reflexão. Não provocam atitudes e muito menos mudanças. Um exemplo disso, é que todo fumante já ouviu milhares de vezes que cigarro faz mal, mas ele não para de fumar por causa dessa informação tantas vezes repetida.
Ao contrário de ouvir, que é frio (tecnologia), escutar é quente (afetivo e cuidadoso). Trata-se de uma atitude. Por isto, é impossível que se escute fazendo outras coisas. Escutar é se colocar para o outro. Fazer-se empático. Uma metáfora nesse sentido, diria que escutar é arrancar da cabeça o aparelho auditivo e colocá-lo dentro do peito. Escutar é dar um tempo naquilo que se esteja fazendo para viver com todos os sentidos o que nos está sendo relatado.
O líder capaz de escutar tem a equipe em suas mãos. Reconhece cada um do time, do seu jeito distinto dos outros, cria comprometimento e aumenta o senso de dono. Escutar está para o líder, da mesma maneira que ouvir faz parte do baixo desempenho do chefe.
Questões para reflexão:
- Quanto tempo do dia você tem investido em escutar a sua equipe?
- Em relação ao seu papel de líder, o que você tem necessidade de escutar, mas só tem ouvido?
- Há quanto tempo não escuta o silêncio? Ele também pode falar muito...