Fernando Dias Cyrino
A organização é viva. Ela, como nós que a constituímos, vive a infância, adolesce,torna-se adulta, fica madura e envelhece tornando-se avessa às mudanças.
A organização é um ser vivo. Constituída pelos humanos, além de corpo tem espírito, comporta-se como qualquer um deles estando em constante movimento. Observando-a através deles poderemos notar que podem ser rápidos, um tanto atabalhoados e mesmo divertidos quando ela, muito jovem, dá os primeiros passos. Podem ser movimentos de intensa curiosidade, em tempos que, totalmente aberta para o mundo, sai para descobri-lo e enfrentá-lo. Um pouco mais à frente esses passos denotarão aspectos da adolescência. Quer crescer rápido, é gregária, enturma-se em associações, responde rápido aos estímulos recebidos, muitas das vezes mais com o coração do que com a razão.
Essa mesma organização, já adulta, torna-se cautelosa e suas decisões passam a demandar maior tempo. A cintura aumentada é prova da geração, além dos resultados, também da gordura da burocracia. Desconfia de tudo que pareça que vá querer mudá-la.
Com o passar do tempo aquela organização ágil e cheia de vida que vimos nascer torna-se lenta. Os movimentos que muitas delas ainda tomam não geram mais valor. Ao sentir alguma ameaça externa se fecham mais. Em algumas delas, o único movimento ainda perceptível é o da respiração curta e ofegante. Até que um dia, caso nada seja feito, estará no necrológio do jornal da cidade a história da sua vida avisando-nos de que ela não mais existe.
O ponto é que, como as pessoas mais maduras, as organizações antigas vão tendo maior dificuldade de mudar. Seus esforços são gastos na tentativa da manutenção do status quo. “Para que fazer diferente se todo o nosso sucesso foi construído deste jeito?” Pensam seus dirigentes, pois “afinal, em time que está ganhando não se mexe”.
E aí, ao se darem conta de que o mundo é outro e que foram perdidas muitas oportunidades, pode ser já bastante tarde e o custo do seu rejuvenescimento será, com toda certeza, muito doloroso e caro.
Somos assim nós, os seres humanos e comportam-se dessa maneira as organizações que construímos. A questão é que mesmo sabendo que elas repetem os nossos ciclos de vida, não nos preparamos para acolhê-los e quando afloram somos surpreendidos quedando-nos paralisados, perdendo precioso tempo até que saibamos como agir.
A duração cronológica desses ciclos é diferente dos nossos. Com as mudanças aceleradas não será difícil de ver empresas ainda jovens cheias de atitudes de gente bem idosa. Do outro lado, por terem se cuidado ou mesmo terem se reinventado, encontraremos instituições centenárias com a agilidade e o ímpeto da juventude. Esse fenômeno organizacional está descrito magistralmente no livro clássico de Ichak Adizes: Os ciclos de vida das organizações. Para sobreviver e crescer, também como nós, as organizações necessitam se reinventar, ou usando um termo que sinto mais apropriado, se transfigurar, rejuvenescendo-se e tomando, agora com a consciência da maturidade, comportamentos, ações e atitudes necessárias a um novo tempo de dinamismo e de retomada de resultados.
Conhecer profundamente a organização na qual se está inserido é saber da sua fase de vida. Tendo consciência disso estaremos capacitados a agir rapidamente e com eficácia, aplicando o tratamento apropriado assim que os sintomas de algum transtorno organizacional sejam diagnosticados.
Há pais que mesmo tendo os filhos crescidos continuam a tratá-los como crianças. Na outra ponta dessa mesma estrada há idosos reclamando de filhos e netos que os tratam como se crianças, ou adultos incapazes eles fossem. Não saber o ciclo da existência da instituição é correr o risco de tratá-la equivocadamente. Grosso modo seria como dar a ela remédio ou alimento de adulto quando ainda se trata de uma criança, ou administrá-la como uma madura senhora e ela apenas adolesce.
Por causa de tratamentos assim os gestores e a área de RH surpreendem-se ficando sem saber os porquês dos seus esforços e ações não apresentarem os resultados tanto esperados e o que é pior, podendo ter agravados aqueles problemas detectados.
Sem dúvidas que é a área de gestão de pessoas a primeira responsável por observar onde se situa a sua organização em relação ao ciclo de vida. Essa missão é sua e é indelegável. O grande problema é que muitas áreas de recursos humanos estão voltadas somente para a execução do seu papel administrativo. E quando estão assim são incapazes de perceber o que acontece fora do seu ambiente.
Recursos Humanos necessita, sem se descuidar um só minuto das obrigações administrativas, virar-se para fora. As antenas devem focar-se no cliente principal, os gestores. Serão eles, dentre os quais sempre haverá aqueles com maior sensibilidade para perceber esses fenômenos, os parceiros na detecção, diagnóstico e também no tratamento das doenças próprias da fase vivida.
Questões para reflexão:
- Em que fase da vida está a minha organização?
- Ela está consciente disto?
- A área de gestão de pessoas está atenta ao que é mais importante, necessário e urgente?