Fernando Dias Cyrino
A nova organização para gerar mais resultados e manter comprometidas as suas equipes necessita cuidar também do seu espírito e tem características bem interessantes.
Durante muito tempo os manuais da administração teimaram em pregar a frieza dentro das organizações. Sem dúvidas que este modo de vê-las e de propor o seu gerenciamento fez muito mais mal do que bem às nossas empresas. Aquele foi o tempo da administração científica. A gestão sendo feita puramente pela física Newtoniana e o fruto disto era a supervalorização da inteligência racional.
Apesar de todo dirigente saber que não se dirige mais uma organização desta forma, é comum observarmos exemplos deste comportamento por aí. Parece que aquele modelo ficou tão impregnado nas empresas, que acaba trazendo de volta esta visão já ultrapassada no gerenciamento.
Caso fosse esse um problema geracional, causado pelo comportamento dos gestores mais maduros seria explicável e mais fácil de ser resolvido, eis que a solução seria uma mera questão de tempo. Mas a questão é maior eis que se nota esta forma de gerenciamento também entre lideres mais novos. Aqueles que já aprenderam nas escolas e nos livros que não se gerencia mais assim, mas que, confrontando o que aprenderam fora com o que vêem dentro da empresa, preferem ficar com o modelo antigo.
Óbvio que a gestão antiga tem seus apelos. É mais fácil, o líder não costuma ser questionado. Com isto ele se torna mais protegido nas relações com seus empregados, já que a hierarquia torna-se mais acentuada. O grande problema é que este modelo vai pouco a pouco diminuindo o compromisso das pessoas ao gerar uma cultura da obediência, o que na prática passa a significar que a autonomia e as equipes não são tão bem vistas. Menos ainda se os times forem compostos de membros de mais de uma área, indo assim além da hierarquia.
Organizações assim podem até se manter com resultados positivos por um bom tempo, o que as vai mantendo acomodadas até o momento em que tomam o susto de se verem superadas pela concorrência. Ter resultados positivos não significa de forma nenhuma que eles sejam os resultados possíveis de serem atingidos.
E os resultados tornam-se mais factíveis e sustentados até o seu limite máximo, na medida em que na organização seja valorizado também o seu espírito. Que haja nela a consciência de que o que a compõe não são, além dos equipamentos, imóveis, mobiliários e recursos financeiros, a “mão de obra”, ou dizendo da mesma maneira e com outras palavras mais delicadas os seus “recursos humanos”, o que termina por colocar no mesmo nível os recursos financeiros e os materiais com as pessoas.
Ter gente e não mão de obra, ou mesmo recursos humanos, é sinal claro de que se tem espírito vivo e forte na organização. Não que no caso de não se trabalhar assim não houvesse vida do espírito. Ela já existia nos modelos anteriores e inclusive no modelo científico, mas de modo bem fraco hibernando pelos seus cantos. Anêmico como uma vela com a chama se extinguindo e que ao menor sopro se apagará. Afinal toda organização é constituída de gente e não é possível haver um ser humano vivo sem que nele esteja se manifestando - uns mais, outros menos – a sua espiritualidade.
Espírito, em numerosas culturas, dentre elas a nossa Ocidental Cristã, é sinônimo de vida. Ele é o ar que nos inspira. E é a respiração que gera movimento, que dá ânimo – em Latim a palavra alma é “ânima”. Quando não há o espírito aí está instalado o desâ nimo, a morte. A espiritualidade organizacional tem como objetivo aumentar o nível e a qualidade da vida dentro da empresa. Para gerar isto ela precisa investir no espírito, no ânimo, daqueles que a compõem, seus empregados.
É bem comum notarmos uma confusão das pessoas nas organizações a respeito do que seja espiritualidade organizacional. Ela costuma ser confundida com “religiosidade organizacional”, o que passa a ser um fato que dificulta a sua implementação, eis que haverá gente de várias religiões, além de outros agnósticos e ateus. Não se trata definitivamente disto. Espiritualidade organizacional quer dizer que a empresa, como os membros que a compõem, tem espírito e que ela sente, age e pensa a partir dele. Nas organizações que valorizam a sua espiritualidade notamos algumas características:
1 – Alta resposta dos empregados nos desafios organizacionais. Comprometimento e adesão entregando o que têm de melhor nas suas competências.
2 – Integração das áreas, menor peso da estrutura e abertura nas relações.
3 - A hierarquia como meio para se atingir os resultados e não como fim em si mesmo.
4- Maior rapidez e prontidão para a implementação das estratégias e decisões.
5 - Maior abertura e confiança nas relações. Transparência das lideranças e confiança, acabando por perder sentido as agendas ocultas.
6 - Parceria empresa e empregados para a manutenção das competências atualizadas.
7 - Espaço para as relações. Comemoram-se os resultados e avaliam-se os fracassos.
8 – Comunicações se dão de forma verdadeira e cuidadosa. Ela é fluida e aberta.
9 – Trabalham-se os conflitos em profundidade. Eles não são varridos para “baixo do tapete”.
10 – Responsabilidade vista de forma holística: com os valores, produtos e serviços, as pessoas (tanto internas quanto externas), com o ambiente e com o mundo.
A organização com espiritualidade enfim respeita os seus empregados além do seu raciocínio. Eles também são cuidados no que têm de espírito e sentimento. Sabe que a negação disto é provocadora de uma divisão esquizofrênica e nela haverá perda para todos. Tem consciência e age sabedora de que o futuro é sinérgico. Ele é quântico e o resultado da soma de dois mais dois será sempre, organizacionalmente, bem mais do que quatro.