Tradicionalmente as organizações baseavam-se em hierarquia e controle. Preservavam-se através do poder, ordem e segurança. Este modelo mostra-se obsoleto.
A organização tradicional buscava o controle. Por isto a sua estruturação hierárquica pressupunha em primeiro lugar a ordem e a obediência. A regra é simples para o seu funcionamento: manda-se e automaticamente se é obedecido. Na sua formação elas seguiram o modelo de duas instituições bem fortes na sociedade e que são assim constituídas: a Igreja e a força militar. A estruturação piramidal parte daí.
Definida a estrutura partia-se em busca do perfil mais adequado para o exercício do trabalho sob a sua égide. Ao revisitar suas raízes eclesiásticas e militares constatava-se, obviamente, que as pessoas ideais para atuarem nelas eram aquelas capacitadas para o mando e a obediência. Até aí nenhuma novidade ou dificuldade. Bastava seguir o modelo de formação e seleção da “mão de obra” já existente nas duas instituições inspiradoras.
Constituído o negócio, definiam-se seus processos e ensinava-se aos contratados o que se esperava deles. Para as que deveriam mandar que ordenassem e à grande maioria que iria operar que obedecesse, oferecendo sua “mão de obra” com a docilidade e a passividade de antemão requeridas. Com esses dois grupos, adestrados para mandar e seguir ordens, seriam automaticamente gerados os resultados cobrados pelos seus agentes e comunidade.
Não é por acaso que fazia sucesso nesses tempos expressões do tipo “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, “em boca calada não entra mosquito”, “pato novo voa baixo” e tantas outras. Todas querendo sugerir que se requeria da grande massa, só e exclusivamente, a execução daquilo que se lhe ordenava. O pensar restringia-se ao pequeno grupo remunerado para mandar.
Os tempos desse tipo de organização tradicional encontram-se no passado. Eles, como as águas antigas, não movem moinhos. Eram águas daquela modernidade na qual se vivia num mundo bem mais previsível. Naqueles tempos as coisas anunciavam que se tornariam obsoletas e que iriam se modificar. A ação da mudança se dava como nos teatros, ou nas salas de concerto, nos quais a sirene avisa que o espetáculo irá começar. Períodos tranqüilos em que se tinha o conforto de mais de um sinal para que ninguém ficasse de fora da novidade que se aproximava.
O mundo passava a impressão de girar mais devagar. As cores de tudo eram mais definidas: o branco era bem alvo e o preto todo escuro. Havia quem mandava e aqueles que obedeciam e ninguém questionava. Os cenários apontavam caminhos com clareza, a concorrência era baixa e o preço do produto ou serviço era fixado simplesmente fazendo-se a soma do que era gasto nas etapas do processo produtivo. Um mundo bem mais simples. Para os “chefes” era o paraíso.
Aquele era o tempo da “mão de obra”. O que se contratava no grupo executor nada mais era do que a sua força e o movimento do corpo. Ao se requerer gente assim deixava-se de fora aspectos tão nobres quanto esse de trabalhar com a força física, tais como a emoção e o espírito, a capacidade de refletir e de questionar. Nessa época gente era recurso (os famosos “recursos humanos”) e seria considerado como impertinência algum operário, pago para operar e não para argüir, perguntar algo fora da cartilha do seu perfil.
Esse mundo buscava a todo custo se reproduzir, mantendo-se fixo na sua organização. Baseava-se para isto em três pilares que podemos chamar de fatores de conservação: o poder, a ordem e a segurança. Preservar tudo como estava era o seu ideal. Mudança era algo chato. Na maioria das vezes indesejável.
Hoje a realidade é outra. Esse mundo acabou. O mundo novo é imprevisível e nele a mudança chega de forma avassaladora. Traz em seu bojo transformações cada vez mais rápidas e profundas. Exige novas formas de organização para que se possa manter o sucesso e obter resultados sustentáveis nele. É um mundo diferente no qual aquele tripé de manutenção não faz mais sentido e novo modelo passa a ser requerido. Os fatores válidos agora são os de criação e inovação e o novo tripé é composto pelo espírito, a liberdade e o risco. Vale refletir um pouco sobre eles.
As organizações são compostas de pessoas e é o espírito que em última instância as mantêm motivadas, as move. Espírito é como podemos nomear a vida ativa. É o sopro, vento que renova, ar que preenche o espaço para que haja a criação. Ao fazerem parte das organizações as pessoas, automaticamente, vão levando para dentro delas seu espírito. No mundo tradicional ele era automaticamente reprimido, ou somente considerado quando vinha do topo da pirâmide. Na nova organização o espírito permeia toda a gente e ambientes. Gera comprometimento e entusiasmo fazendo com que todos persigam o ideal maior do seu Valor: o serviço à sociedade.
A liberdade é o dom maior do ser humano. No mundo anterior os que mandavam costumavam sentir as pessoas que os obedeciam como suas. “A minha mão de obra” era o que falavam. A liberdade pressupõe ser dono do próprio destino, o que nada mais é do que tomar para si as rédeas da vida, assumindo-se como líder e senhor da própria história. Um ser assim não mais pode ser “propriedade” organizacional e nem ser considerado como “mão de obra”.
O risco é inerente ao viver. Uma das falas recorrentes de Riobaldo Tatarana no romance universal Grande sertão: veredas é que “viver é muito perigoso”. Sábia essa constatação do famoso personagem. Nada mais verdadeiro. Viver é arriscar-se e não dá mais para se ter uma organização sem riscos. No mundo passado quando se falava de riscos se deixava de fora todas aquelas instituições que não fossem privadas. Hoje não é mais assim. Na nova realidade ninguém está imune ao risco. Seja pública ou privada, esteja no primeiro, segundo ou terceiro setor, todos se arriscam. É alienação se pensar que se possui algo que durará para sempre. Viver é correr riscos e a nova organização, para ter sucesso, precisa imbuir-se dessa certeza.
A hierarquia e a obediência não acabaram. Poder, ordem e segurança continuam válidos e necessários. O que não mais pode acontecer é que se auto justifiquem tornando-se fins em si mesmas. A diferença é que agora estão envoltas no sentido maior do espírito, da liberdade e do risco. Para serem validadas e se tornarem significativas para o negócio a hierarquia e a obediência precisam se enxergar como meios e passar pelas peneiras do novo motor; espírito, liberdade e risco.