Fernando Cyrino
Qual o tempo ideal para se permanecer numa mesma posiçao dentro da organização? Reflexões sobre carreira e a noção do tempo suficiente.
Ponto relevante no acompanhamento de pessoas em processos de gestão de carreiras diz respeito à questão do tempo no desempenho de uma função ou atividade na organização. Costumeiramente se pergunta qual o período razoável que se deva cumprir antes de almejar nova posição. Não há resposta pronta para sanar essa dúvida. Vale refleti-la mais profundamente a partir de seis pressupostos.
- Não existem duas carreiras iguais, da mesma maneira que não há dois profissionais idênticos. A comparação será saudável caso leve a uma maior motivação na busca das competências que levem ao crescimento. Não sendo assim evite-a, pois que o nome dela passará a ser simples inveja e esse sentimento não costuma construir nada.
- As carreiras a cada dia que passa se tornam mais aceleradas. Atividades são reagrupadas, novos processos aparecem requerendo outras habilidades e competências. Cargos que existem há tempos crescem ou diminuem de importância numa velocidade grande. Não é raro de se ver profissões perderem seu sentido. Por isto é necessário atenção para que não se busque crescimento em algo que declina.
- Cuidado para não confundir período de trabalho numa função ou atividade com experiência. São coisas diferentes. Experiência é a soma do tempo necessário para se aprender a atividade, dominá-la em todos os seus passos e interações, até tornar-se um experto reconhecido nela. A partir daí não haverá mais “experiência” na função, mas somente tempo no qual se repete aquilo que se faz com competência.
- Desenvolvimento de carreira é algo que vai muito além da ascensão vertical. É bem possível e razoável que em trilhas de carreira haja momentos de “crescimento” que podem dar às pessoas de fora a impressão de estagnação ou mesmo de queda.
- Todo ser humano tem seu nível de competência e sem dúvidas que dentro dele é capaz de feitos muito grandes. Deve-se ter cuidado para não ultrapassá-lo, eis que isto significará a exposição da sua “incompetência”.
- Em carreiras muito técnicas ou especializadas, nas posições situadas no topo bem como naquelas muito operacionais, a questão do tempo na função deverá ser avaliado sob outro prisma. Não estamos abordando esses aspectos nesse texto.
Vistos e refletidos os pontos, a partir da carreira pessoal vivida, se chegará ao que chamamos de “tempo suficiente” numa posição. Através dessa expressão queremos dizer que há um período ótimo de permanência num determinado cargo. Ultrapassá-lo é entrar na curva decrescente da motivação, criatividade e capacidade de recriar-se na função. Na outra ponta, largar a posição antes de se chegar ao “tempo suficiente” será o mesmo que sair sem que tenha atingido o máximo da competência no espaço organizacional ocupado.
Costuma-se dizer que esse “tempo suficiente” ocorre geralmente em volta dos seis anos de exercício da mesma atividade. Não é bem assim. Há pessoas que poderão atingi-lo depois, como é possível que outras o alcancem antes. Exemplos de gente que viveu seu estágio “suficiente” antes e de outras que o atingiram depois podem ser encontrados em toda parte.
O “tempo suficiente” é decorrente de três fatores que poderão acelerá-lo ou freá-lo. O momento vivido pela organização se vive períodos de calmaria ou turbulência; a complexidade e quantidade das interações necessárias ao cargo ocupado; a posição da empresa na cadeia, quanto mais próxima do cliente mais ágil deverá ser e mais rápido será então esse tempo.
Envolvidos na dura rotina do trabalho, o mais provável é que não se note a chegada do “tempo suficiente”. Enquanto aqueles que estão próximos já o reparam, a pessoa poderá cair num processo de auto-engano. Em posições de liderança a equipe é que primeiramente percebe esse fenômeno. Nessa hora a atuação da área de gestão de pessoas é fundamental. O cuidado em se preservar, mais que o profissional, o ser humano na sua totalidade, é valor que só engrandecerá a organização e todos os seus componentes.
Decorrido o “tempo suficiente” é preciso, antes de se sair à cata de algo maior, que se faça o teste da prontidão. Ele nada mais é do que avaliar as competências atuais, cotejando-as com aquelas que serão necessárias na posição desejada. Ninguém está pronto para o novo, mas oferecer-se a ele situando-se muito aquém do que se exigirá tem queimado muitas carreiras.
Oportunidade não tem hora para acontecer. Pode ser que surpreendam chegando antes do “tempo suficiente”. Caso ocorram assim, não devem ser aceitas de olhos fechados. Vale fazer o inventário de competências e a partir do que se é e do que se virá a ser, montar um plano de crescimento e adequação ao novo posto.
Novo ciclo da vida profissional então se abre, inicia-se novo aprendizado, até que se chegue ao domínio das atividades, construção das relações necessárias, reconhecimento no cargo como especialista, até que se sinta que novo “tempo suficiente” vai se aproximando.