Afirmar-se como indivíduo e ao mesmo tempo trabalhar em equipes são características do ser humano atual. Integrar essas peculiaridades é tarefa da gestão de pessoas, trazendo maiores resultados e gerando realização às pessoas nas organizações.
Desde a modernidade observa-se, cada vez mais, o quão importante é para o ser humano a afirmação como indivíduo. Sem dúvidas que esta é uma característica dos tempos atuais. Busca-se de maneira intensa se afirmar e se fazer ouvir. A autonomia e a auto-suficiência são colocadas como sinônimos do realizar-se enquanto pessoa. É como se a realização pessoal e profissional, a liberdade e a felicidade somente pudessem ser atingidas a partir daquele momento em que se tenha encontrado a independência.
Ao mesmo tempo, a pós-modernidade acena-nos com outro atributo bem marcante. As pessoas vão se organizando cada vez mais em grupos, comunidades e blocos. Nota-se claramente este fenômeno desde o campo pessoal com o incremento das confrarias compartilhando os mesmos interesses, passando pelas reuniões de convívio, crescimento espiritual, equipes de estudos e até em defesa daquilo no qual se acredita. E esses são meros exemplos de outros tantos tipos de comunidades que vão se formando. No cenário organizacional a opção pelo trabalho em equipe já é consenso há um bom número de anos.
Essas propriedades dos nossos tempos, como outras características dos dias de hoje, carregam em si o paradoxo. Ao mesmo tempo em que se impõe a individuação, se tem a valorização do grupo. Há que se aprender a lidar e tirar partido dele. O RH, que é na organização o especialista no comportamento humano, é que instruirá os demais, a partir das lideranças, na melhor forma de se explorar esse cenário.
Obviamente que levadas a extremos essas duas tendências entrarão em crise, tomarão sinal negativo e buscarão se destruir. De um lado, o indivíduo na busca da afirmação a qualquer custo terminará por atropelar os espaços dos companheiros, tendo também dificuldades em se integrar no trabalho em equipe. Do outro lado, poderemos encontrar organizações excessivamente preocupadas com os times. Para tudo e a toda hora se fazem grupos de trabalho e esses, obviamente, terminam por se banalizar, gastam bastante dinheiro, perdem efetividade e geram bem poucos resultados. Consequentemente o processo decisório vai se tornando lento e a responsabilidade mais diluída, afetando também o comprometimento pessoal com os resultados.
Aproveitar ao máximo essas tendências tirando vantagens e valorizando o que cada uma possui de melhor, requer grande cuidado e atenção por parte da equipe responsável pela gestão de pessoas. Sem dúvidas que esta é uma tarefa desafiadora para o RH contemporâneo. Será ele que dará tom e ritmo para que as lideranças possam conciliar e manter integrados indivíduo e equipe, os dois lados de uma mesma moeda.
Indivíduo e equipes precisam caminhar em paralelo. Seguindo assim serão capazes de criar sinergia e bons resultados. O indivíduo que cria e é a razão de ser do time, pois que não dá mais para se fazer sozinho. Por outro lado é preciso ter a equipe apoiando e dando sentido ao ser humano, para que se realize, como indivíduo, através do trabalho junto aos companheiros.
Consideramos aqui três pistas, ou focos de atenção, para que se possam integrar com sucesso essas duas tendências.
1- Respeito ao individuo. Não se trabalha mais com “mão de obra”. Este já é um discurso antigo e fora de moda, eis que tratar o empregado como “massa” é algo, pelo menos teoricamente, há bastante tempo em desuso. A questão é que não é bem assim o que se costuma ver na prática. Ainda há por aí atitudes demonstrando o quanto este conceito ultrapassado, está ainda arraigado no modelo de gestão de alguns gerentes e supervisores. Respeitar o indivíduo é dar-lhe voz e vez. Sabê-lo possuidor, como nós, de espírito e emoção. Ouvi-lo, conhecê-lo profundamente e não apenas pelo que está registrado no seu crachá ou na ficha funcional. É acreditar que ele pode ser capaz de muitos desafios e fazê-lo ver o quanto é significativo. Mais do que se cuidar da necessária revisão das políticas de RH adequando-as à demanda também do indivíduo, é necessário trabalhar mais a liderança, para que não pratique atitudes contrárias ao, geralmente belo e politicamente correto, discurso organizacional.
2- Clareza da opção pela equipe. A organização tem que deixar muito evidente para todos que optou pelo trabalho em equipe. Esta opção não pode estar presente apenas nos documentos, discursos e valores expostos em placas pelas paredes. Ela tem que acontecer na prática. Dizer que se trabalha em equipe, ao mesmo tempo em que se investe prioritariamente nas ações pessoais, valorizando também a obtenção dos resultados de maneira individual, é deixar as pessoas embaraçadas. Ao se sentirem confusas virá até elas em seguida a desconfiança, o que as fará paralisadas ou caminhando bem devagar para evitar riscos. Buscarão então retomar a segurança perdida, o que significa que retornarão àquilo que lhes dá mais conforto, ou seja, a velha e conhecida tarefa individual. Dar clareza à organização é criar espaços comunitários e valorizar sempre mais a participação e a solidariedade. Ao escolher trilhar o caminho das equipes a organização estará dizendo que para respeitar ainda mais o indivíduo, ela opta por se fazer comunidade e que um “alguém” não se faz pessoa solitariamente. Esse ser se constrói pessoa através das outras pessoas.
3- Autonomia e equipe. Trabalhar em equipe é dizer que se confia não somente naqueles que têm a missão efetiva de liderar, mas que todos os envolvidos são necessários e competentes. Dar e receber confiança é ponto fundamental na construção de resultados consistentes, crescentes e duradouros. É necessário dar poder a todos na organização para que se sintam integrados e comprometidos com a tarefa. É preciso dar segurança e confiança o que quer dizer que deve haver, caso não exista ainda, um viés para a experimentação, com a conseqüente possibilidade concreta do erro. As pessoas precisam se sentir autoras do próprio trabalho para que possam assumir seu poder. Somos incapazes de imaginar o quanto as pessoas que trabalham conosco são poderosas! Não enxergar isto está mais perto da nossa incompetência do que da maneira deles se manifestarem. Ao se caminhar efetivamente para o trabalho em equipes a organização precisa tomar consciência de que o espaço da autonomia será sensível e continuamente aumentado. Ao fazer isto estará sendo criada possível fonte de conflito. Lidar com esta tensão gerando espaço para que as equipes tenham autonomia, ao mesmo tempo em que se cuida das prerrogativas da liderança, é papel do RH que requer competência, discernimento e sabedoria.