Fernando Cyrino
O gerente de sucesso será aquele que entender profundamente de gente. Esta atenção às pessoas passa por três pontos principais.
Nas ocasiões de festa é comum se arrumar uma “fala do presidente aos empregados”. E quando eles falam raramente vão deixar de citar que “os empregados são os grandes recursos da organização”. Trata-se do discurso do óbvio e, não poucas vezes, tem por objetivo justificar o descuido com o pessoal durante o ano. Nada mais são do que tentativas inúteis de envolver o grupo, trazendo-o para o seu lado.
Não é por aí. O comprometimento dos empregados acontecerá naturalmente no dia a dia da gestão. A arte de envolver os empregados passa pelo gerenciamento que valorize as pessoas. Um modelo de gestão aberto que mostre, na prática, que as pessoas não são os recursos. Estes são a tecnologia, as máquinas, as plantas industriais e o dinheiro.
Ao contrário do que costumam dizer os líderes e muitos documentos do RH, o ser humano é muito mais do que um simples recurso. Ele é o princípio, o meio e o fim de toda atividade econômica. As políticas e práticas de gestão de muitas empresas mostram-nos que houve um esquecimento dessa verdade básica, o que gera uma enorme e silenciosa perda de energia e resultados.
Ninguém, ao ser contratado, chega desmotivado e descomprometido. Os novos chegam às organizações carregados de entusiasmo e de sonhos. O problema é que, pouco a pouco, ao perceberem que são considerados meros recursos, algumas vezes ainda em nível mais baixo do que os verdadeiros recursos organizacionais, o desânimo toma conta deles. Acabam por assumir o que se sinaliza esperar deles: que sejam meras “mãos de obra”.
A gestão das pessoas precisa estar atenta a este veneno letal que se injeta lentamente na sua força de trabalho. A gestão necessita do diferencial do cuidado. Muito mais agora, quando a competição se torna a cada dia maior, será o tratamento individualizado e atento às pessoas que fará a diferença e propiciará a sustentação e o crescimento da instituição.
Tanto quanto entender do negócio e da sua atividade, no futuro, o gerente de sucesso será aquele que entender profundamente de gente e conseguir fazer com que se sintam comprometidos. O primeiro cuidado nesse sentido será o de não desmotivá-los. Sim, porque geralmente é o exercício errado da função gerencial que causa a desmotivação e o descomprometimento das equipes de trabalho.
O novo líder, além de todas as competências necessárias para que exerça com excelência o seu papel, necessita ser cuidadoso com cada um dos homens e mulheres postos sob seu comando. E não somente com esses, mas também com todos os demais que, de uma ou de outra forma, interagem com a sua área de trabalho. Ao fazer o mapeamento dessas interações, veremos que não é pouca essa gente. Esta atenção às pessoas, à qual nomino Gestão do Cuidado, passa por três pontos principais:
1 - O ser humano busca o sentido maior das coisas. Ele pode ter funções muito singelas, mas não se contenta com o pouco. Ao passar uma tarefa ou atividade, por mais simples que seja, é fundamental que o líder mostre que sentido tem aquilo que está solicitando. Mais ainda, ele precisa fazer com que o seu subordinado veja, com muita clareza, o que está sendo construído. Dar sentido às coisas é também valorizar o sentido que as pessoas têm. Quando falamos em sentido, é necessário se estar atento aos três significados principais da palavra. Sentido enquanto direção: para aonde estamos indo? Que obra estamos construindo? Que caminho será seguido? Quais dificuldades encontraremos? Sentido também como significado. O trabalho precisa ter significado e caberá ao gerente cuidadoso fazer com que o seu empregado tenha clareza e possa se orgulhar do significado do que constrói. Sentido também como algo que vai além do pensar, mas que passa pelos sentimentos para que possa se transformar depois em ação.
2 - As pessoas nas organizações têm consciência hoje de que precisam ter as suas competências atualizadas. Não tê-las prontas para atuarem fará com que o grupo tenha baixa produção, sendo mais gerador de problemas do que de resultados. Manter as competências dos empregados atualizadas é hoje missão impossível para as organizações. Apesar disto, engana-se o gerente que não possui consciência de que é ele o treinador do time. E que será ele o técnico que mobilizará e apoiará a todos para complementarem fora aquilo que a organização não tiver condições de suprir. Os empregados, a partir do seu líder, precisam se conscientizar de que o aprendizado interessa grandemente à empresa, mas deve preocupar ainda mais a ele, pois que o que for aprendido é valor que se agrega a ele mais do que à organização para a qual presta serviços.
3.-.Gente também tem espírito e emoção. Não somos máquinas. Havia antigamente a falsa noção de que empresa é lugar para se trabalhar e que deveria permanecer, do relógio de ponto para fora, tudo aquilo que fosse pessoal ou que pudesse interferir no trabalho. Quando pensavam assim as instituições, paradoxalmente, estavam nos dizendo que não queriam gente dentro delas, mas sim robôs. Queriam meras máquinas e aí ficava claro o porquê de denominarem a força de trabalho como “seus recursos”. Quem consegue manter separadas a vida profissional da pessoal está doente. Se quisermos gente saudável é preciso entender que as pessoas têm sentimentos e que não há como separar em duas realidades a vida, que é só uma. Exercer a gerência do cuidado é ter empatia, é exercer a compaixão. É sentir o clima e saber quando cada um está bem, e quando necessita de alguma atenção especial. É acompanhar a execução, é dar metas claras e desafiadoras e também cobrá-las assertivamente. E enfim, entre tantas outras coisas, é chamar a atenção em particular, quando for preciso, e elogiar em público.
Um bom exercício gerencial é buscar saber mais sobre a vida das pessoas sob seu comando, fora do tempo em que estão na organização. Ao fazer isto é bem possível que se tenha surpresas. Não será rara a descoberta de que aquela pessoa que parece vegetar durante o período do dia em que está no trabalho, quando fora da empresa transforma-se em alguém muito vivo. Às vezes vira um grande e respeitado líder. Constrói, é um animador dos outros, promove causas, luta e trabalha com grande entusiasmo por aquilo que acredita. E aí nos vem a pergunta: por que será que ele só se motiva lá fora?
Implantando a gestão do cuidado se fará com que essas pessoas que têm tanto a dar e entregam tão pouco resultado, sintam-se mais valorizadas e integradas, redescobrindo a alegria e os sonhos que alimentavam quando chegaram para o seu primeiro dia de trabalho.