Possuir competência para utilizar de maneira integrada os sentidos dará ao gerente maior efetividade, aumentando sua capacidade de gerar resultados.
Numa realidade de mudanças tão rápidas e impactantes, o uso mais aprimorado dos sentidos pelas lideranças é fundamental para o sucesso dos resultados. Afinal é a partir deles que ocorre o relacionamento humano. Apesar de serem cinco, quando se trata de vê-los na dimensão organizacional costuma-se prestar atenção muito mais à visão e audição. O não uso de forma sinérgica de todo eles causará perdas na percepção da realidade impactando, conseqüente os resultados.
Muito tem se falado e tratado a respeito do uso da intuição pelas lideranças dentro das organizações. Sem dúvidas que ela é importante. Tê-la desenvolvida é aplicar a habilidade do corpo de perceber o que é bom e aquilo que precisa ser evitado. Descartá-la é colocar no lixo aquilo que é fruto de milhões de anos de evolução.
Só que antes de se aprofundar no chamado “sexto sentido”, valerá muito a pena verificar a quantas anda o nível do uso dos outros cinco pelos líderes na empresa. Até porque tê-los bem ampliados propiciará, automaticamente, o melhor uso do sexto. Tratar da intuição sem ter desenvolvido bem as potencialidades dos cinco sentidos seria algo como investir nos jardins sem haver tratado antes de suprir o interior da casa daquilo que lhe seja essencial.
Neste artigo trataremos de alguns pontos a respeito da competência na aplicação dos cinco sentidos, já que não basta ter bem desenvolvidos apenas um ou dois deles. Para se obter sucesso num ambiente tão competitivo e rápido é fundamental usá-los plenamente, integrando-os de uma maneira bem “sinestésica”, quando no exercício da liderança. Não é por acaso que a evolução fez com que o ser humano se desenvolvesse com eles cinco. Sairá na frente da corrida o líder que melhor utilizar, de maneira sinérgica, todos eles.
O olfato
O gestor que o tem bem desenvolvido consegue perceber facilmente qual “cheiro” tem sua área e cuida para que seja sempre saudável. Que o ar do ambiente esteja “perfumado” é o que busca constantemente. O cheiro ruim organizacional é causado pelos conflitos mal resolvidos e que foram varridos para baixo do tapete. Pelo clima organizacional descuidado e por ações e atitudes de pouca ética, capazes de fazer com que para elas tenha que se “torcer o nariz”. Corrói também o olfato quando se tem guardado “defuntos” nos armários. Por mais que eles tenham sido vedados chegará o dia em que o cheiro ruim invadirá o ambiente. Manter mortos guardados significa não se aprofundar nas questões difíceis e nem querer resolvê-las, fingindo que não são importantes e que serão naturalmente esquecidas. Não é sem sentido quando se diz que “algo não cheira bem”. É o olfato sensível a mostrar que a maneira como está sendo tratado o problema não levará a uma solução saudável. Ter olfato desenvolvido fará com que o gerente, ao menor sinal de mudança de odor na sua área, tome logo ações para que o lugar de trabalho volte a ter o seu cheiro original.
O paladar
Quando se está motivado e comprometido trabalha-se com apetite. Metaforicamente costuma-se dizer no meio futebolístico, que quando um atleta fez uma excelente partida, que ele “comeu a bola”. O gerente atento aos seus sentidos também precisa estar com o paladar acurado para se alimentar, prazerosamente, das ações que ele e a equipe deverão realizar para que as entreguem “mastigadas” ao cliente. Outro aspecto do paladar ao qual o bom líder deve estar atento diz respeito à alimentação da equipe. É uma boa e saudável comida? Ou comem mal e em conseqüência tornam-se obesos ou vivem abaixo do peso, tornando-se apáticos e desanimados? A boa refeição é celebração que se faz com quem se sente bem. Companheiros são aqueles com quem se partilha o pão. Nesse ponto o gerente atento aos sentidos deverá propiciar condições para que comam juntos, pelo menos nas datas significativas, tais como as superações de metas e resultados, entrada de novos membros, despedidas de outros, aniversários, etc.
O tato
Quando se irá encontrar ou se esteve com alguém é usual dizer que se terá, ou se fez um contato. Ao buscar o sentido etimológico dessa palavra, veremos que ele nada mais é do que “exercer o sentido do tato”. Ao contrário de outras sociedades que são bem mais frias e que por isto costumam fugir à proximidade e ao toque, o povo brasileiro naturalmente busca o contato. Essa é uma característica que o gerente atento aos sentidos poderá explorar, para melhor interagir com sua equipe. O braço sobre o ombro no momento certo. A mão oferecida na hora exata na qual o subordinado mais precisava dela. Uma comemoração onde o abraço forte é bem-vindo no grupo. São gestos que fazem parte dos rituais de convivência dentro da nossa cultura. Mesmo que sua organização, por causa da origem, seja de pouco com- tato, o gestor que tem atenção aos sentidos saberá tirar partido, pelo menos mais discretamente, desse sentido. Sem dúvidas que deverá também fazer ver à cultura organizacional o quanto se ganhará, na cultura brasileira, com o contato saudável dentro da empresa.
A audição
Sobre os dois últimos sentidos muito se têm dito e escrito, mas na verdade nunca é demais falar deles. Até porque mesmo estando mais “na moda” isto não quer dizer que sejam bem desenvolvidos pelos líderes nas organizações. O fato é que ainda se escuta muito mal nas empresas e também na vida. Não faz muito tempo alguém me dizia que ao viver um problema grande, foi partilhá-lo com seu gerente. Esse, sem deixar de teclar no laptop, foi logo dizendo “vá falando aí que estou lhe ouvindo”. Obviamente que essa pessoa desconversou e saiu sem ter tratado da sua questão. É claro que se trata aqui no exemplo de um extremo, mas é bem comum que não se ouça bem as pessoas. Principalmente quando o assunto é chato, ou o indivíduo a ser escutado não é alguém que se considere simpático. Com esses temas e com gente assim há que se exercitar mais ainda a audição. Não se escuta só com os ouvidos. Ouvir exige a atenção do corpo inteiro. Talvez seja esse o sentido mais sinérgico, eis que ao usá-lo bem necessariamente todos os outros sentidos terão que estar envolvidos. Os olhos atentos naquele que fala, o corpo voltado para o contato; o olfato ligado para sentir se acaso algo cheira bem e deve ser aproveitado, ou tem odor ruim e precisa ser descartado; o paladar apurado para comer das palavras que lhe estão sendo ditas, se possível “ruminando-as” para que sejam mais aproveitadas e ter aumentado o seu sentido. As comunicações são geralmente cheias de ruídos. Há que se desenvolver algum tipo de filtro para “limpá-los. Ouvir como se aquelas palavras nunca antes tivessem chegado aos ouvidos, como se tudo fosse enorme novidade. Escutar enfim usando junto ao cérebro que vai processando as informações, também com o coração.
A visão
Um dos nomes mais usuais de cargos exercidos por lideranças dentro das organizações é o de supervisor. Acostumados ao uso rotineiro das palavras, costuma-se passar por cima delas sem se dar conta do seu sentido profundo. Notem que chamar um tipo de gestor de “supervisor” é dizer que se quer dele o exercício de uma “super-visão”. Que ele veja bem mais do que se costuma enxergar naturalmente. Será que na prática os gerentes têm tido essa “super-visão”, ou costumam enxergar apenas o que todo mundo vê? O líder atento aos sentidos é aquele que está buscando ver além, porque sabe que as aparências enganam. Por isto é necessário que o gerente vá mais fundo naquilo que esteja vendo para apurar o sentido maior do que enxergou, o que irá confirmar ou não seu diagnóstico inicial. Ver além significa olhar as pessoas com quem se trabalha não a partir de estereótipos ou preconceitos, mas tendo sobre elas o olhar diferenciado de quem acredita no ser humano e de que ele é capaz de superar-se quando se acredita nele. Por isto o olhar gerencial tem que ser sempre o olhar de quem crê no membro da sua equipe. Como se poderá produzir mais se a visão gerencial sobre as pessoas é de que elas somente são incapazes ou “capazes do menos”? A visão do líder também precisa estar sempre posta adiante. Deve mirar o futuro e não estar presa ao que já aconteceu. Não se lidera o passado. Nele é necessário que se veja em que se errou para não se repetir histórias de engano e o que se acertou, para que seja aprimorado, mas não dá para se ficar preso ao ontem. O olhar do gerente ligado aos sentidos estará colocada sempre nas pessoas que executam as atividades, nos seus clientes, nos produtos e serviços que entrega e no futuro, onde acontecerão os resultados e se manterá viva a organização à qual empresta suas competências.