Fernando Dias Cyrino
Assumir a função gerencial requer formação. Além das competências técnicas e de negócio é preciso saber ouvir, ser confiável, comunicar, formar pessoas e equipe, manter a motivação, acompanhar a execução, controlar, inovar e empoderar seu pessoal.
Encontrei-me, faz pouco tempo, com um jovem profissional com quem trabalhei. Contava-me todo feliz da sua ascensão profissional. Havia se tornado gerente. De imediato o parabenizei e lhe perguntei: conte-me da preparação para assumir o posto de líder? Disse-me então que tinha feito um curso de finanças e outro sobre planejamento e programação. Não me encontrei mais com esse novo gerente. Mas confesso que a nossa conversa e preocupação com ele animou-me a escrever uma carta para todos aqueles que são lançados na função gerencial sem terem sido preparados. Tomara que o meu amigo a leia.
Meu jovem gerente,
Receba de novo os cumprimentos pelo novo cargo. Sei da sua importância e de como se sente. Está feliz e realizado por ter tido reconhecidas suas competências. Creio que você, a organização e a equipe que agora lidera mereciam uma preparação mais efetiva e que levasse em conta também o fator humano na gestão. Afinal, será cuidando de pessoas que você irá gerar os resultados que todos esperam.
Dominar as finanças e saber conduzir o planejamento são competências, sem dúvidas, necessárias à função gerencial. Só que considerar alguém preparado somente com esses dois programas de treinamento é pouco e por isto me admira a coragem da sua empresa em progredi-lo, sem que houvesse algo focado na condução de pessoas na sua formação gerencial. Digo isto mesmo sabendo que vários de nós nascem com habilidades de liderança bem desenvolvidas. Mesmo assim, vejo se cometerem muitos equívocos quando essas habilidades não são aprimoradas.
Nessa carta quero lhe falar, amigo gerente, com muita brevidade, de alguns pontos para os quais você deverá prestar atenção e caso sinta, pelos feedbacks recebidos da equipe e chefia, que precisa se desenvolver neles, que não fique somente nesses itens bem superficiais, mas que busque, bem rápido, algo com mais substância. Considero que o gerente, além das competências mais técnicas e do negócio, é aquele que:
1 – Sabe ouvir – Saber ouvir é muito mais do que ter uma boa audição. Escutar é colocar-se todo para, mais do que perceber, sentir o que está por detrás daquilo que lhe está sendo trazido. Saber ouvir é colocar-se inteiro, o que significa parar tudo para só ter olhos, ouvidos e coração para quem está lhe falando. “Vá falando aí que estou escutando”, dizem algumas pessoas enquanto, por exemplo, olham sua caixa de mensagens no computador. Este comportamento mata a possibilidade de haver ali alguma conversa efetiva e profunda. Quem age assim definitivamente que não é um gerente. No máximo pode ser nomeado como um chefe. O gerente que sabe ouvir tem a equipe sob seu controle.
2 – Confia e é confiável – Antes de cobrar confiança o bom gerente é aquele que demonstra confiar nos companheiros que estão sob seu comando. Demonstrar confiança não se dá nas grandes negociações ou em momentos relevantes de comando. Ela acontece nas pequenas atitudes do dia a dia. Provar confiança é cumprir o que se prometeu, estando escrito ou não. É não se deixar levar por fofocas e diante de palavras ou atitudes que possam ter um sentido negativo, antes de considerá-las como certezas, dar respostas de boa fé. As aparências podem nos enganar. O gerente confiável respeita as pessoas e tem consciência da sua humanidade. Ao errar ele sabe pedir desculpas.
3 – Comunica – A equipe do gerente bom comunicador possui total clareza sobre o que é esperado dela e em contrapartida, sabe o que pode conseguir de cada um dos membros do seu time. Comunicar é evitar as agendas ocultas e estar aberto para ouvir opiniões diferentes, sem demonstrar enfado ou irritação. Comunicar-se bem é ter uma agenda de reuniões com a equipe, independente de haver uma crise ou algo muito importante a ser dito. Com o exemplo da comunicação que vem do seu líder, todo o time cresce e vai se transformando também em comunicador. Agindo assim vão sendo eliminados os mal entendidos e as terríveis “caixas pretas”. O gerente comunicador é assertivo.
4 – Forma pessoas – As pessoas postas sob o comando do gerente formador estão sempre em processo de desenvolvimento. Ele investe, não gasta, tempo ensinando as tarefas e atividades. É paciente e sabe que ter uma equipe bem formada é o grande capital que lhe dará condições para bancar o próprio crescimento. Formar e desenvolver é apoiar para que todos tenham suas competências atualizadas, para tudo aquilo que lhes é demandado. Isto significa tornar as pessoas capazes de agir sem que haja necessidade de supervisão direta. Ele identifica os potenciais e os trata diferenciadamente. O formador tem sempre pelo menos dois membros da sua equipe sendo preparados para, se necessário, sucedê-lo. O gerente que desenvolve capacita a equipe. Ele a encoraja para que se supere, buscando sem cessar degraus mais altos de desempenho.
5 - Mantém a motivação – Um rápido olhar à nossa volta irá mostrar várias pessoas “cumprindo burocraticamente o seu papel”. Gente que poderia dar muito mais e que se reserva o direito de só entregar aquilo que lhe é pedido. Será que são felizes assim? Claro que não. O ser humano é movido a desafios e é, com certeza, uma carga bem pesada ter que passar o dia todo fazendo estritamente o que se manda, em troca do salário no final do mês. Quanto nossos empregados poderiam dar além? Com certeza, bem mais do que a média produz hoje. O bom gerente é aquele que ajuda a equipe a manter alta sua motivação. Faz isto cuidando para que as condições de trabalho sejam satisfatórias e que haja desafios para todos. Manter o time motivado pressupõe também comemorar as vitórias. Mas não somente isto. É preciso ainda analisar em profundidade o fracasso. Com bom senso, o que significa, sem colocar o foco na busca de culpados. Importa considerar o acontecido para que não mais se repita. Caso o gerente se sinta incapaz de manter alta a motivação, que pelo menos não desmotive seu time.
6 – Acompanha a execução – Observo que ainda há muito gerente executando tarefas. Cuidado, porque você não é pago para isto. Ao realizar a atividade o gerente cumpre a atribuição de algum membro da equipe. O bom gerente é aquele que faz fazer. O problema é que alguns confundem isto com algo como “largar a tarefa” nas mãos de alguém, como se dissesse: “toma que o filho é seu”. Nada mais errado. Passar a tarefa significa primeiramente ter certeza de que o que está sendo pedido foi corretamente compreendido. A partir dessa compreensão impecável, o gerente ficará próximo ao executante para apoiá-lo, dar o ritmo e corrigir com ele a rota, caso seja necessário. Cuidado porque estar perto não pode significar que ali estará posicionado um chato o tempo todo. Alguém de prontidão para tolher a liberdade e a criatividade do empregado. Há gerentes que pensam que acompanhar é perguntar como está indo a tarefa. Todos sabem que a resposta padrão para tal pergunta será “vai tudo bem”. A questão é que nunca se sabe se este “tudo bem” corresponde à expectativa do gerente. Acompanhar a execução é, enfim, aproveitar o tempo de interação para desenvolver o empregado e também para aprender com ele e com a equipe.
7 – Está no controle – É importante que todos saibam que há mãos seguras no comando e que se possui clareza quanto ao caminho a ser percorrido. O gerente que está no controle dá segurança à equipe. Ele aloca, com sabedoria e alinhado aos objetivos organizacionais, os recursos disponíveis. Controlar não é dirigir apenas com os olhos no retrovisor, confirmando os buracos da estrada, mas sim mirando à frente. Cuidando para que o orçamento seja bem executado. Prevendo as dificuldades que poderão acontecer daí por diante. Controlar bem é ter um bom “painel de controle”, atualizado e disponível para ser acessado pelos membros da equipe. O gerente que tem o controle em suas mãos é confiante e transparente. Controlar é não ter medo de cobrar. É manter a equipe sempre atenta à qualidade, prazos e custos, sabedora de que é a soma do trabalho de cada um que gerará ou não o bom resultado final. Controlar é enfim dar espaço e condições para que todos atuem como controladores do espaço organizacional.
8 – Dirige um time – O bom gerente não tem um grupo sob seu comando, mas sim um time altamente qualificado e treinado. Não um time qualquer, mas uma equipe vencedora. E quem é o principal responsável por este treinamento e qualificação é o seu técnico, ou seja, o gerente. Como responsável pelo time ele buscará apoio da organização, principalmente do RH, que é o especialista em pessoas na empresa, para que a equipe seja cada dia melhor. Dirigir um time é saber distribuir as tarefas. Deixar bem clara a posição de cada um e o mínimo que se espera dele. É tomar cuidado para que as estrelas não queiram “jogar sozinhas, segurando demasiadamente a bola” e nem que os “normais” fiquem esperando que os talentos resolvam os problemas sozinhos.
9 - Valoriza a inovação e a criatividade – O gerente é aquele que conhece bastante de gente e por isto sabe que cada um dos participantes da sua equipe tem mais competências do que demonstra. Todos têm riquezas insuspeitadas e o gerente deve ajudar nas suas descobertas pela equipe. Ele sabe que há muitos riscos em se trabalhar somente com pessoas parecidas e por isto valoriza as diferenças. Trata-as como riquezas a serem exploradas. Aproveita o que cada um tem de melhor gerando bastante sinergia. Ele estimula a equipe a buscar o novo e a testá-lo, estando sempre em prontidão para conduzir ou apoiar a mudança necessária Apóia as ações inovadoras e criativas e as valoriza perante a organização.
10 - Dá poder ao seu pessoal – O gerente é aquele que “empodera” as pessoas. Que faz com que saiam da zona de conforto e busquem o crescimento. Ele as encoraja e cria o que podemos chamar de ”viés para o erro”. Este nada mais é do que dar condições aos empregados para irem além da tarefa, o que aumenta a possibilidade de falhas. Se os erros são punidos fortemente, passa-se tacitamente o recado de que não é bom tentar algo novo, eis que errar queima. Uma equipe “empoderada sabe que o erro nunca é bem vindo, mas que precisa ser considerado como possibilidade real. Gerente que empodera o time tem consciência de que o seu sucesso está nos resultados gerados através do poder, das competências, comprometimento e criatividade da equipe.
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