O Tipo Oito é o forte do Eneagrama. A questão aí é que ele não possui suficiente consciência dessa sua força e pode acabar machucando as pessoas. Busca poder e por isto é comum vê-lo em posições de liderança e comando. O pecado fundamental que o aprisiona é a luxúria. No texto refletimos sobre algumas características e comportamentos dessa gente.
Luxúria é a paixão do Tipo Oito. Trata-se de palavra forte, da mesma maneira que também o é o componente desse Tipo do Eneagrama. Ao olhar nos dicionários o significado da luxúria se verá enfatizada a questão da sensualidade. Há que se tomar cuidado, eis que a luxúria não pode ser entendida e observada somente sob este aspecto.
Ela no contexto do Eneagrama tem conotação mais abrangente. Foca-se na questão do excesso, a intensa procura da extrapolação sensorial, a ânsia por usufruir prazer e realização a partir do uso do outro. Esta busca, como ocorre nas outras fixações, se dará em todos os cenários da vida, o que inclui obviamente a sexualidade.
Não é muito comum se observar representante do Tipo Oito de comportamento contido. Terá esta atitude sim, mas quando já redimido. Naturalmente ele está sempre se lançando. Não em jogadas marqueteiras, como ocorre com o Tipo Três, mas literalmente se jogando todo para frente, como se precisasse se mostrar (e mostrar-nos) que está presente no meio de nós.
É necessário que se diga que, na verdade, tal lançamento é totalmente desnecessário. O Oito é dono de uma energia tão forte e intensa, que será praticamente impossível haver alguém indiferente a ele em algum lugar. Quando chega em um determinado ambiente logo será percebido e mais ainda sentido, eis que não é do seu feitio ter cuidados, ou escrúpulos, em apresentar aquilo que tem de mais explícito, sua força.
Esta maneira “descarada” de se colocar faz com que diante dele há que se realizar premente definição. Ele aprecia e provoca isto. Aliás, descaramento pode ser um bom sinônimo para a sua luxúria. O Tipo Oito sempre quer saber quem está com ele e quem se colocou do outro lado, o que no seu modo, descarada e maniqueísta, de ver o mundo, significará estar do lado do “inimigo”.
Uma das primeiras constatações que se faz em relação a ele é que, ao contrário de outros tipos que costumam não ser percebidos e até mesmo ignorados, sabemos que alguns até buscam isto, o Oito é diferente. Por estar sempre provocando as pessoas ao redor e assim, não há como ignorá-lo. “Esteja comigo ou caia fora”, parecem alardear aos quatro ventos. Nessa postura bastante direta poderá ser não somente direto e assertivo, mas mesmo bem agressivo.
A maneira que ele tem de fazer contato não é nem um pouco sutil ou delicada. O Tipo Oito interage com as pessoas como se as estivesse cutucando. Além da necessidade de conhecer os amigos e os “do outro lado”, ele as testa para saber se aquele com quem se relaciona é forte o suficiente e digno de confiança.
Esses cutucões metafóricos possuem também outro objetivo, este de mais longo prazo. É que com eles, caso a pessoa abordada não se mantenha firme, logo dará um passo em direção a ela, aumentando assim o poder, ou seja, seu espaço de influência. O Tipo Oito procura apropriar-se de todo o ambiente à sua volta. Havendo Oitos por perto há que se estar atentos às fronteiras. Eles são tremendamente espaçosos.
Na verdade, apesar dessa fachada toda, ele não é tão forte assim. Esse jeito excessivo e duro de ser, nada mais é do que a casca criada para ocultar a fraqueza existente no seu interior e que o Oito resiste em demonstrar. Por fora duro e forte, do lado de dentro frágil e sensível. Só que a bem poucos ele concederá este acesso ao seu lado afetuoso. Ele escolhe algumas pessoas especiais, as quais concede a vivência desse seu lado oculto.
Por conta da fraqueza escondida o Tipo Oito terá grandes dificuldades em conviver com a fragilidade alheia. Quando se vê diante dela reage imediatamente. Anseia mesmo por afastá-la - e nisso não poupará agressividade - para o mais longe possível da sua presença. Depois dessa primeira reação instintiva, através da qual denuncia a fraqueza encontrada e que lhe incomoda demais por expor também a sua, pode apresentar dois tipos de comportamento:
Irá, quase literalmente, adotar alguns representantes dentre essas pessoas mais frágeis como protegidos, dando todos os sinais ao ambiente de que estão sob suas “asas”. Ou seja, mexer com algum desses afilhados, significará comprar briga com seu protetor.
A outra atitude que costuma ter nessa hora, se dá em relação àqueles outros que considera fracos e que não se encontram entre seus queridos. Com eles acontecerá diferente. Serão expulsos - de novo vem a agressividade - da sua frente. É que receia que possam fazer com que denunciem a “ponta do rabo” da fragilidade, que enfática e empenhadamente tenta ocultar. Naqueles casos em que tal pessoa não possa, ou queira se afastar e nem reaja à altura, será bem possível que terminará por ser feita “gato e sapato”, verdadeiro capacho do Oito.
Essa carapaça dura e grossa, desenvolvida para esconder fragilidade, tem também o objetivo de ajudá-lo a enfrentar o mundo. E este, na visão do Tipo Oito, é hostil. Tal armadura possui outro efeito colateral. Fez com que se tornasse, de certa forma resistente e mesmo insensível à dor. Por isto não será nem um pouco difícil vê-lo vivenciar situações duras e de sofrimento estoicamente. Não faz muito tempo viu-se o Oito e idoso Fidel Castro, que acabara de quebrar a perna, fazer o discurso programado antes de partir em busca de socorro.
É muito complicado querer enganar o Tipo Oito. É que ele desenvolveu alta sensibilidade para captar mentira e falsidade. Odeia também se sentir desinformado. Precisa saber que tem o controle e isto significa ter em mãos toda a informação disponível. Negar-lhe isto é se colocar como seu oponente e será assim, como inimigo, que tratará tal pessoa.
Há uma palavra fundamental na vida do Oito: justiça. Está sempre buscando realizá-la. A grande questão é que ao fazê-la do seu modo estará sendo tremendamente injusto, eis que só levará em consideração o seu olhar parcial e comprometido. Pior que o tipo Oito, principalmente quando não redimido, ou em crise, fixa-se fundamentalmente no seu ponto de vista. Aí desconsiderará as demais miradas sobre a questão o que terminará por criar injustiças ainda maiores, nesse seu afã de se fazer justiceiro.
Seu mecanismo de defesa é a negação. Tudo aquilo que lhe pareça errado será negado. Quando o equívoco se encontra fora no ambiente, ou no outro é mais fácil. O problema é que ele tende a levar a negação também para o seu interior. Não redimido ele tenderá a negar até o fim quando for questionado a respeito de algo que pensou, sentiu ou fez e que não seja considerado correto no seu meio.
Poder é outra palavra que mexe com ele. A busca incessante por mais poder fará com que o Tipo Oito acabe se colocando em evidência. Por isto será bem comum encontrá-lo no exercício da liderança em seu âmbito de atuação. Esse poder, quando ele não está bem, poderá descambar para o autoritarismo e o domínio do outro, configurando-se aí o seu pecado de raiz, a luxúria.
É gente necessitada de muito estímulo. Estar quieto sem “obra” a ser executada é como estar morto. Por isto vive em busca de ação. E nessa procura bem pode ser que arrume encrencas. Quando se envolve em um projeto torna-se trabalhador incansável. Não há hora para terminar e será missão praticamente impossível desviar-lhe a atenção.
Como o Oito tem energia demais necessita gastá-la. Fará isto em qualquer oportunidade. Não será raro vê-lo, nesse afã, usando mais força do que a necessária para a atividade executada, das mais simples, tais como girar a maçaneta da porta, às mais complexas, como gerenciar um grande projeto.
É intenso em tudo e por isto, quando desenvolvido, tendo tomado consciência daquilo que é na realidade, se depara com o caminho do crescimento espiritual, mergulhará, também intenso, de cabeça. Na verdade, no princípio da caminhada espiritual, porque ele se dá conta de que Deus é como ele: “Todo Poderoso”.
No caminho, pouco a pouco, cairá na realidade de que este poder de Deus não é, de maneira alguma, igual ao conceito que eles assimilaram e carregam. Deus é Todo Poderoso, mas no Amor, na Paz e na Justiça. O Poder de Deus nunca é “luxuriento” a exigir domínio, o espaço do outro e muito menos realizará guerra, ou diminuirá alguém.
Alguns Oito, ao se tocarem dessa dimensão diferente do Poder de Deus em relação ao que imaginavam, poderão se sentir um tanto frustrados. Será o tempo no qual irão, como que, embelezar e dar maior significado à imagem de Deus que trazem. Poderão se fazer perguntas do tipo: “será que encontrei o deus errado?” “Valerá a pena seguir esse Deus que se mostra fraco a ponto de morrer abandonado, traído pelos seus amigos, numa cruz?”
Nesse lustrar da imagem de Deus, buscando cada vez mais o encontro de uma face nova nEle, o Tipo Oito que cresce não perde nada da sua intensidade. A procura que faz é ampla como ele e, de novo, as fronteiras deverão ser transpostas. No caminho da espiritualidade do Oito é comum que se observem várias trilhas até que, pacificado, ele possa descansar no colo do Deus da Inocência.
Cuidado porque esta palavra nada tem de alienação, ou de infantilidade. A Inocência de Deus, tão almejada pelo Tipo Oito , é a da Pureza Original. O Deus encontrado enfim por ele será o Ressuscitado do Apocalipse em suas vestes de pureza plena. O Oito descobriu que nada, muito menos o seu pecado, tem o poder e a força de manchar as vestes de Deus.
Superada esta dificuldade o Oito crescerá e se verá bem mais humanizado. Usará cada vez menos o instinto e em contra partida assumirá muito mais a consciência e o espírito. Nesse crescimento será capaz de descobrir e mais ainda além da descoberta, experimentar, à sua maneira, ou seja, forte e intensamente, três aspectos da vida espiritual:
- Compaixão – Saberá unir-se à dor e dificuldades do outro. Fará isto não de cima para baixo. Do alto da sua dominância em relação àquele que lhe está a dever obediência, mas de igual para igual com todo aquele que é excluído, ou de alguma maneira sofre. Seu olhar, costumeiramente duro e que antes era capaz de provocar temor, agora gera muito mais a empatia e a segurança.
- Justiça – O Oito vive em busca da justiça. Ao crescer espiritualmente se dará conta do tamanho do engano havido nessa procura. Ao contrário da “sua justiça”, onde se põe sempre ou como justo ou como magnânimo, um aspecto automaticamente excluindo o outro, descobrirá que em Deus não existe esse “ou”. No seu lugar haverá um “e” eis que Deus sempre está a juntar justiça e misericórdia. Conscientiza-se que a justiça de Deus é restaurativa e jamais vingativa.
- Poder – Poder da autoridade e não do domínio ou do mando. O poderoso tem autoridade e etimologicamente autoridade significa aquele que ajuda o outro a crescer. O Oito será autoridade porque fazendo uso da sua competência, auxiliará a todos que se encontrarem por perto, a se tornarem melhores seres humanos. A liderança se dará então de forma assertiva e não agressiva e todos que estiverem por perto se sentirão protegidos, eis que alguém com grande poder está no exercício do comando. O poder do Oito passa a se dar assim na dimensão do Amor e do cuidado.
Unidos pelo círculo a todos os demais Tipos todos temos, de alguma forma, a luxúria. Não somente o Oito que a possui como paixão fundamental precisa se preocupar com ela. Ninguém está livre. Todos tendemos, em vários momentos da vida, a nos postarmos sob a sombra sorrateira da luxúria. Leia e releia o texto observando-se mais no intuito de verificar, com abertura de coração, como a luxúria se manifesta dentro do tipo do qual faz parte.
Para auxiliar na reflexão e apoiar as descobertas e ênfases, há algumas perguntas postas em seguida. Use-as tanto quanto possam ajudar na caminhada e deixe-as de lado, caso sinta não serem pertinentes para o conhecimento de si e seu crescimento pessoal e espiritual.
Perguntas para ajudar na reflexão da Luxúria no meu Tipo:
- Tenho consciência da minha luxúria? Como ela se oculta, ou se manifesta?
- O Deus do Poder e da Justiça, tão característico do Tipo Oito se manifesta em minha vida?
- Em relação à luxúria há algum mandato da minha infância do qual preciso me libertar?
- Que presente do Tipo Oito estou mais necessitado para a minha vida espiritual?
Ao final faço o NER ( O que foi novidade? Que aspectos de mim foram enfatizados? Quais relações consigo fazer a respeito?)
Resumo:
Pecado de raiz: Luxúria (descaramento)
Armadilha: Retribuição
Mecanismo de defesa: Negação
Autoimagem: Sou forte
Convite: Compaixão
Fruto do Espírito: Inocência