O Tipo Seis no Eneagrama é alguém que tem muitas dúvidas. Por isto não lhe é nada fácil o processo da tomada de decisão. São fieis e dedicados. O pecado que os aprisiona é o medo. No texto refletimos sobre alguns comportamentos usuais na gente deste Tipo.
A Pós-Modernidade é tempo de variadíssimas opções. Há, a todo o momento, que se optar por novas direções para fazer frente a uma realidade sempre mutante. Viver num contexto assim gera, no Tipo Seis o medo e a insegurança. “Como será o amanhã? Como vai ser o meu destino?” Indaga a canção num grito de um, bem possível, Seis aflito por enxergar mais ameaças do que oportunidades no futuro.
Situado no centro do Centro da razão o Seis deveria ser aquele Tipo possuidor do maior nível de certezas e de clareza de raciocínio do Eneagrama. Não é nada assim o que acontece. Ele, regido pela sua paixão fundamental, o medo, é cheio de suspeitas e desconfianças. Tal modelo de pensamento obriga-o a avaliar constantemente uma gama imensa de opções. Isto faz com que as decisões se tornem para ele mais complexas e difíceis de serem tomadas.
Nessa nova era exigente de rapidez e assertividade o Seis se vê envolto a cobranças de respostas ágeis e diretas. Isto faz com que se sinta entre a cruz e a espada. É demandado a decidir de imediato, ao mesmo tempo em que sofre o medo de deliberar sem que as variáveis tenham sido ainda totalmente exploradas e errar.
Originalmente o Seis acreditava firmemente em si mesmo, nas pessoas com quem interagia e no cosmos. Aos poucos essa fé, fruto das atitudes humanas com as quais conviveu, foi perdida e ele foi passando a crer que o mundo é lugar perigoso de se morar. Passou a senti-lo como espaço ameaçador à sua integridade e realização. Por isto, confiar tornou-se tremendamente ameaçador.
O cérebro do Tipo Seis é como o motor com alto nível de exigência. Precisa estar ininterruptamente em atividade. Vive a processar dados, analisando atitudes, comportamentos das pessoas e do ambiente à sua volta. Acredita ser a eterna vigilância aquela que lhe propiciará a segurança tão ansiadamente almejada. “Sempre alerta” prega o lema dos escoteiros. Sempre em prontidão está o tipo Seis em meio ao mundo e isto, sem dúvida, o cansa demasiadamente.
É regido pela dúvida. Sua mente é inquiridora e desconfiada. O medo de não ser ferido fez com que desenvolvesse um mecanismo muito interessante de autoconservação. Chamamos de projeção a tal engenho. Trata-se de inferir o que o outro pensa, ou deseja e, a partir daí, considerar como certezas as atitudes alheias. Passa a considerar como realidade aquilo que nada mais é do que a própria imaginação.
Há um conto infantil que demonstra este comportamento. Um homem tem precisão de um serrote. Sabedor que seu vizinho possui tal ferramenta, vai à sua casa para pedir-lhe emprestado. Enquanto caminha imagina que não será atendido. “Fulano imaginará que serei descuidado com o serrote”. “Pensará que o estragarei”. “Receará que não o devolva por ser esquecido”. “Melhor não lhe fazer o pedido. Vai ver será agressivo comigo”. Nesse emaranhado de pensamentos chega ao vizinho. Bate à porta. Ao ser aberta, grita lá de fora: “Não quero seu serrote. Deixe-o aí bem guardado”. Seu amigo até hoje está sem entender o que possa ter ocorrido.
Para fazer frente à pressuposta realidade hostil era preciso bolar uma estratégia. A saída encontrada pelo Seis não considerou um único caminho de defesa. A maneira dele se proteger, diferentemente dos demais tipos do Eneagrama, é bifurcada. Isto porque em relação ao medo, a paixão que costumeiramente o domina, há sempre duas possibilidades concretas de ação: fuga e ataque.
A pessoa do Tipo Seis que costumeiramente foge, diante de algo que considere ameaça, é denominada fóbica. O aprendizado da vida a fez insegura quanto à maneira de lidar com a autoridade. Esta passou a ser vista como fora de questionamentos. “Autoridade é para ser obedecida e ponto final. Então, para que me mantenha íntegro é necessário que escape logo para lugar seguro. Melhor não correr riscos”.
Há também o Seis que automaticamente ataca, quando posto diante do que considere ameaçador. A este se nomeia contrafóbico. É aquele que está sempre a desafiar a autoridade. Questiona-a seguidamente dando-lhe mostras patentes de que não confia. Seu medo e insegurança fez com que passasse a considerar que a melhor defesa é o ataque. “Então, antes que eu seja ferido, é bem mais eficaz e seguro que eu fira. Assim terão respeito para comigo e poderei ficar tranquilo, eis que assim estarão eliminados os riscos”.
Sem dúvidas que estes dois tipos de comportamento podem ser reunidos numa mesma atitude: a covardia. Fugir da dificuldade não a enfrentando é atitude covarde. Da mesma maneira, atacar previamente, sem nem saber se aquilo que se está vivendo está configurado como ameaça, nada mais é do que um distinto aspecto da mesma covardia.
Viver e ter medo nada mais são do que as duas faces de uma mesma moeda. Não se consegue sobreviver sem que se esteja conectado, de alguma maneira, ao medo primordial que abrange todo ser humano. No romance Grande Sertão: veredas há uma fase recorrente do personagem Riobaldo Tatarana, diga-se de passagem um clássico exemplo de Tipo Seis contrafóbico, a dizer que “viver é muito perigoso”.
Não ter medo, e pode-se ver isto em algumas crianças e adolescentes (e até em adultos imaturos demais) que ainda não têm bem desenvolvido o instinto de sobrevivência, é expor-se a riscos reais e totalmente desnecessários. Todos convivemos com o medo, eis que afinal é ele que nos dá limites e nos faz tomar cuidados. A diferença básica é que o Seis é regido por ele.
Esta atitude de eterna atenção e vigilância provoca, além do cansaço, stress e ansiedade. Não é fácil e muito menos simples manter constantemente em alta o sistema interno de alerta. Conviver com o Seis e ajudá-lo é oferecer-lhe confiança e segurança. Ajudá-lo para que possa relaxar e curtir tudo que a vida esteja a lhe proporcionar.
Desconfiado de tudo e todos, o Tipo Seis também acaba por se desconsiderar. Imagina não estar preparado para os desafios que se lhe apresentam. Abraça-o então o pavor de não dar conta deles, do fracasso. Adquire, não raras vezes, o medo do crescimento e este gera nele um autoboicote ao desenvolvimento espiritual e profissional. Inconsciente, ou em alguns casos conscientemente, ele pode se puxar para baixo, arrumando um jeito de se depreciar. “Não dou conta, é muita areia para o meu caminhão”. “Isto é somente para pessoas mais preparadas e inteligentes...” Tal comportamento tem feito com que muitos Seis, no fundo por medo do sucesso, acabem por perder significativas oportunidades pessoais e profissionais.
Ao tomar maior consciência da dimensão vertical da vida o Tipo Seis se apropria de coragem, um dom do Espírito e cresce. Toma consciência de que o mundo é incapaz de lhe oferecer a segurança em nível suficiente para que se sinta à vontade. A verdade é que vivemos numa Terra que não se encontra pronta. Sabemos que o mundo não está pronto. Ele ainda se faz como ambiente de moradia para os viventes e, sem dúvidas, que toda a humanidade corre riscos.
Dentro dele também o ser humano está em construção. Não nascemos prontos. Nós todos necessitamos crescer, temos os afetos desordenados e não poucas vezes nos vemos presos às fixações e pecados fundamentais. Somos necessitados de crescer em humanidade. Os desastres naturais por um lado e as paixões desordenadas pelo outro, são confirmações desse nosso status evolutivo.
A busca da espiritualidade, pondo-se no caminho da maior intimidade com Deus, irá levar o Tipo Seis a experimentar, dentre outros, três aspectos da vida divina: a fé a coragem e a amizade. São três brilhantes faces de Deus que, sem dúvidas, todos os demais tipos são necessitados.
Como as receberam como dons, também de graça eles as estão a disponibilizar. Cabe aos outros Tipos, que também correm pela vida em busca do crescimento, se apropriarem desses preciosos presentes a todos oferecidos. Vejamos um pouco de cada um desses três dons.
Fé – O povo da Bíblia toma consciência da fidelidade absoluta de Deus e a inscreve em suas vidas. Repara e deixa registrado o enorme paradoxo existente entre ele, sempre o traindo em seu Amor e por outro lado a existência de um Deus que, não importando o comportamento dos seus filhos, mantém-se incondicionalmente fiel.
A fidelidade, essa face tão bela de Deus poderá ser, por cada um, mais assumida a partir da observação e convivência com o Tipo Seis, que está em crescimento espiritual. Ao se redimir ele se torna para nós espelho, mesmo que limitado diante da imensidão do criador, desse Pai fiel sempre acolhedor e misericordioso.
A fé, o Tipo Seis com vida espiritual sabe bem disto, sempre está a pressupor a dúvida. Uma fé que nunca passou pelo fogo da suspeita e nem foi questionada irá, pouco a pouco, se tornando rasa. Deixará de criar raízes fortes e profundas. Ao menor vendaval poder,á de um só baque, vir ao chão.
Coragem – Etimologicamente esta palavra carrega o sentido de agir com o coração. O Tipo Seis, centro do Centro da Razão, ao crescer na dimensão espiritual, abandona seu modo de pensar excessivamente cerebral e projetivo, para se manifestar a partir do coração. O medo domado fará com que o coração se transforme em mola propulsora a lançá-lo à vida.
Ao falar na coragem do Tipo Seis é preciso que se tenha atenção. É que a coragem da qual está aqui se falando, é algo bem distante do agir de pouca sensatez do contrafóbico. Coragem não é, jamais, ter medo de sentir medo.
Ser corajoso para o Seis significa deixar de buscar o escape, ou o ataque automático, para discernir levando o que encontra nessa mirada interior, para refletir primeiramente no interior do coração. Todos os tipos são convidados a beber dessa coragem tão necessária em tempos turbulentos e imprevisíveis como esses atuais.
Amizade - O Tipo Seis é grande e devotado amigo. Dentro do cenário espiritual, para que se possa melhor compreender essa dimensão da amizade que ele nos disponibiliza, é necessário que se compreenda mais a questão do temor de Deus. No passado, infelizmente, essa atitude chegou a ser explicada de forma tal, que terminou por gerar confusão.
Achou-se por aí, não poucas vezes, ser o temor de Deus sinônimo de medo dEle. Esse entendimento causou grande mal. Como ter medo de um Pai que é infinitamente bom e misericordioso? Um Deus que só sabe amar e acolher? De que forma ser tomado de receios daquele que é o Amigo por excelência, eis que acolhe, compreende, tem dos filhos infinita compaixão e misericórdia e só sabe amar?
É preciso entender este temor de Deus como respeito a Ele. Mas aqui é para se tomar cuidado, porque tal atitude respeitosa nunca poderá levar ao afastamento. Respeito porque Ele é admirável em suas obras e imenso em sua compaixão. Respeito porque Ele é absoluto e tudo o mais está a girar, relativizado, à sua volta. Respeito porque, ao contrário de nós, Ele é todo bom.
Respeito enfim porque assumir como filhos essa face tão maravilhosa do Senhor é tê-lo como Amigo amoroso. Nele, temos além de um Pai bom, um Pai amigo. Não por acaso Jesus dizia: “Já não vos chamo servos, mas amigos”. Somos amigos de Deus e o Tipo Seis, tão cioso do cuidado com a amizade, pode nos auxiliar demais no aprofundamento desta percepção.
A partir de tudo que representa o Tipo Seis, busquemos refletir sobre a paixão do medo. Esse medo que paralisa, que faz fugir e que também leva ao ataque. Unidos pelo círculo possuímos tudo de todos. Observar-se mais no intuito de verificar, com abertura de coração, como ele se manifesta no tipo do qual faço parte. A sombra do medo, de alguma forma tem convidado para que me abrigue sob ela.
Busque ler e reler o texto para realmente se apropriar do sentido mais profundo do que nele está contido. Para ajudar na sua reflexão há algumas perguntas postas em seguida. Use-as tanto quanto possam ajudá-lo na caminhada e deixe-as de lado caso sinta não serem pertinentes para o conhecimento de si e seu crescimento pessoal e espiritual.
- Tenho medo de quê?
- Como se manifesta o meu medo?
- Como me sinto quando amedrontado(a)?
- Como anda a minha fé?
- Exerço a coragem?
- Tenho cuidado dos amigos?
Anoto minhas observações no caderno do Eneagrama.
Faço o NER.
Resumo:
Pecado de raiz: Medo
Armadilha: Covardia
Mecanismo de defesa: Projeção
Autoimagem: Faço o meu dever
Convite: Fé
Fruto do Espírito: Coragem