O Tipo Quatro do Eneagrama busca a originalidade, por isto geralmente está se pondo de maneira diferente do que se comportam as demais pessoas. São pessoas profundas e que estão sempre em busca da beleza. Têm dificuldades com as emoções e as vivem de maneira excessiva. Nesse texto tratamos alguns aspectos da maneira como se comporta essa gente.
Como seria feio o mundo acaso não vivessem neles as pessoas do Tipo Quatro! É esta gente que presenteia a humanidade com a arte. Estão sempre a oferecer a todos a possibilidade de apreciar e beber da beleza contida em tantas obras. Muitas delas feitas por eles mesmos e outras que, com sua sensibilidade tão acurada, foram capazes de perceber e valorizar.
São eles que levam as pessoas a mergulhar no simbólico. Naqueles sentidos mais profundos e misteriosos da realidade. Os espaços ocultos que se encontram bem mais além daquilo que, numa primeira vista, se tem a impressão de que estão sendo vistos ou representados.
Seria ótimo que sempre fosse assim: a simples oferta por parte deles e a consequente fruição vivida pelo restante da humanidade do original e belo. A dura realidade mostrará algo diferente. É que o Tipo Quatro tende a se perder em meio aos meandros e sutilezas, dessa ansiosa e incessante busca do belo.
Termina enveredando por sendas escuras de sentimentos exacerbados. Nessas horas confusas e mesmo tenebrosas, ele se descobre embaralhado em meio ao carrossel de seus sentimentos. Acaba se transformando em simples esteticista. Rígido “fiscal da beleza” que preso a parâmetros e regras cerradas, acaba por se tornar feia, falsa e fria.
A paixão do Tipo Quatro é a inveja e esta precisa ser vista mais além do que costumeiramente a observamos na sociedade. Ele não inveja simplesmente o carro novo, ou a roupa de algum vizinho. Sua fixação é bem mais profunda. Está conectada ao sentimento de uma dolorosa perda ocorrida num passado bem distante.
O que costuma relatar é que “algo muito importante e profundo lhe foi tirado”. Por isto ele, quando ainda preso à sombra fundamental da inveja, irá caminhar pelo mundo observando as pessoas, na expectativa de que em alguma delas irá enfim encontrar aquilo que lhe foi arrancado, brutalmente, nos seus primeiros tempos de vida.
Esta inveja existencial fará com que o Quatro esteja sempre atento aos temas das relações entre as pessoas. Esta atenção se deve não somente a estar posicionado dentro do Centro de Energia das Relações, o Centro Emocional, mas também por conta do seu histórico de vida, em geral apresentando fracassos no campo relacional. Costuma se apaixonar por pessoas de alguma forma inatingíveis ou muito difíceis. Daí decorre uma boa parte dos seus fracassos nessa área.
O Tipo Quatro tende a evitar as coisas simples. Elas podem lhe parecer rasas e “simplórias”. Daí que partirá para uma busca aflita pelo diferente e complicado. O trivial e normal de todos os dias passam a serem grandes incômodos a serem enfrentados. Tem desenvolvida verdadeira ojeriza à rotina. Por isto não costuma ser muito visto e muito menos fazendo carreira nas organizações tradicionais, eis que elas que possuem seus processos bem padronizados. Serão mais encontrados em atividades que demandem o original e a criatividade, como o meio artístico.
Ele tem a sensação de que é melhor atuar na resolução dos problemas, usando o “método complexo”. Por conta disto está sempre buscando “aspectos inexplorados nas questões”, no mais das vezes inexistentes. Isto faz com que tenda a amplificar as questões comuns que se lhe apresentam. No fundo quer transformá-las de fatos ordinários que são em eventos extraordinários que adoraria que fossem e que tanto o atrai.
Tal atitude fará com que se torne presa fácil dos sentimentos. Ele os terá como turbilhões a arrebatá-lo lançando-o de um lado para o outro. O Quatro e seus sentimentos mais se assemelham a um pêndulo ensandecido, ou a uma montanha russa com surpreendentes movimentos cada vez mais ousados e, por que não, perigosos.
Naqueles momentos nos quais se sente envolto pela sombra, o pecado fundamental da inveja, termina por adotar o arriscado lema do quanto mais instável melhor. A esta instabilidade ele dá o nome, enganando-se obviamente, de “busca da autenticidade”.
Esta procura, eivada de sentimentos ilusórios, se dá na tentativa de responder à seguinte questão: “Onde se encontra aquela pessoa realmente autêntica, verdadeira, original e profunda que compreenderá meus sentimentos? Na realidade sinto todos à volta tão rasos. Ninguém é capaz de compreender o que sinto na intensidade que experimento”.
Para os Quatro um copo pode ser bem mais do que um vaso para se colocar líquidos. Ele valerá além disto, eis que estará revestido de toda uma carga simbólica gerada através da sua utilização. Ele aprecia resignificar os elementos a partir de suas “experiências profundas”. A realidade nua e crua é sentida como trivial e sem emoções. Algo frio e simples e plano por demais para ser degustado. É preciso dar-lhe novas e mais ricas conotações.
Os Quatros costumam ser nomeados como “artistas”, e mesmo “artistas trágicos”. Não que sejam todos artistas verdadeiramente. Dentre eles será possível encontrar vários despossuídos de qualquer talento para as artes. São chamados assim porque levam a existência como se representassem belos e profundos papeis. Artistas porque são capazes de preencher, com forma e conteúdo, fatos que em relação aos outros tipos pareceriam mais que sem sentido e sabor.
Saudade é uma palavra que fala intensamente ao coração do Tipo Quatro. Adora olhar o já vivido saudoso daqueles momentos, que por mais banais que possam ter ocorrido, à luz da distância ganharão novos sentidos, serão resignificados por ele como tremendos. Episódios mais que especiais.
Melancolia é outra expressão que lhes é bem cara. A tristeza costuma ter uma raiz identificável. Algo nos faz ou não tristes. Já a melancolia é mais intensa e profunda. Ela pode até ter uma causa, mas esta estará meio oculta pelas brumas. A melancolia aprofunda ainda mais seu sentimento de dor e inadequação. Isto faz com que se feche em si mesmo, demonstrando elevada dificuldade em receber ajuda e acompanhamento espiriutla, quando ainda não está redimido.
Quando empreende a caminhada da espiritualidade o Quatro cresce. Não que seus sentimentos sejam diminuídos ou desconsiderados. Eles permanecem em sua mesma intensidade de sempre. O que passa a ocorrer é que agora se tornam domados. Eles não mais o dirigem e orientam. Ao contrário, o Quatro tornou-se senhor deles. Sabe como lidar com os sentimentos e fará isto no sentido de que os leve para mais perto de Deus.
A beleza e a originalidade é uma face de Deus e o Quatro redimido, tem consciência deste rosto maravilhoso do Senhor da vida. O que até então era visto e vivido no sentido meramente estético, passa agora a ser sentido de modo mais intenso ainda, como uma estrada a o levar para a beleza infinita que resplandece da Divindade.
Quando está integrado o Tipo Quatro é um ser plenamente aberto às manifestações do Espírito, seja nas coisas simples, seja em experiências maravilhosas e profundas. Torna-se capaz de alcançar aquilo que é o sonho de todo místico: sentir e ver Deus em todas as coisas.
Esta visão do Senhor em toda a realidade humana faz com que considere sagradas não somente suas relações interpessoais. Também as coisas, que antes eram vistas como dia-bólicas – separando-o da essência de Deus, agora serão sentidas como sim-bólicas – unindo e integrando Deus à sua humanidade. Neste mistério profundo toda a Terra em sua originalidade e beleza faz-se sagrada a partir desse olhar transcendente do Quatro.
Deus para ele será aquele Ser que integra e faz novas todas as coisas. Nada se põe fora da possibilidade da divinização. Ecumênico, o Tipo Quatro redimido buscará trazer para o colo de Deus todos os seus filhos. Em cada um deles perceberá a incomensurável beleza primordial da criação.
Vivendo em seu estágio redimido, as relações, tanto de casal, quanto de família, profissionais e interpessoais continuam a ser vividas daquela mesma maneira intensa e tão sua conhecida. Só que agora de uma forma equilibrada. O Quatro passou a se respeitar mais. Está com a atenção posta em seus sentimentos. Cuidadoso para se manter em constante consciência. Agora é sabedor de que se não tomar cuidados se tornará novamente presa fácil de sentimentos desordenados.
Integrado consigo mesmo, com os outros e com Deus ele percebe que ser profundo não mais traz o significado simples de se evitar os sentimentos antes vistos como rasos e vulgares de todos os dias. Muito menos denota algum tipo de fuga alienada dos problemas do dia a dia.
Ser profundo agora é o mesmo que estar unido plenamente a Deus através do seu rosto de beleza e originalidade. Significa viver em Deus de uma maneira inteiramente livre, de um jeito que nunca antes havia experimentado. Viver em Deus agora para o Quatro constitui o equilíbrio entre coração razão e ação. Liberto da inveja e dos sentimentos em desalinho, ele é pessoa tranquila em sua intensidade e de fácil trato em meio à sua complexidade.
O Quatro integrado na vida espiritual é totalmente diferente daquele “ser meio estranho” que vivia se escondendo dos outros. Ao contrário, agora ele se coloca sempre disponível. Quer seja para um simples bate-papo; algum tipo de serviço e ajuda; ou a contemplação do Grande e Verdadeiro Artista na construção delicada das suas obras. Torna-se gente do caminho. Põe-se nas trilhas dos outros para ser encontrado e partilhar com as pessoas do tanto de maravilhas das quais é dotado.
Unidos pelo círculo a todos os demais Tipos todos temos, de alguma forma, a inveja. Não somente o Quatro que a possui como paixão fundamental precisa se preocupar com ela. Ninguém está livre. Cada um de nós se abriga e é coberto pela sombra sorrateira da inveja. Leia e releia o texto observando-se mais no intuito de verificar, com abertura de coração, como a inveja se manifesta dentro do tipo do qual sou parte.
Para auxiliar na reflexão e apoiar as descobertas e ênfases, há algumas perguntas postas em seguida. Use-as tanto quanto possam ajudar na caminhada e deixe-as de lado, caso sinta não serem pertinentes para o conhecimento de si e seu crescimento pessoal e espiritual.
- Eu invejo o quê?
- Como se manifesta essa minha inveja?
- Como me sinto quando invejoso(a)?
- Que tipo de relação tenho com a arte e o belo?
- Sei identificar e me surpreendo com a beleza contida nas coisas?
- Que significado para mim tem a expressão “ser original”?
- Deus para mim é beleza e originalidade?
Anoto minhas observações no caderno do Eneagrama.
Faço o NER.
Resumo:
Pecado de raiz: Inveja
Armadilha: Melancolia
Mecanismo de defesa: Sublimação
Autoimagem: Sou diferente
Convite: Originalidade
Fruto do Espírito: Equilíbrio (harmonia)
Por último uma dica. Para uma melhor compreensão do Tipo Quatro poderá ajudar a leitura do meu conto intitulado Bonina. Ele está em meu site pessoal neste endereço:
http://www.fernandocyrino.com/visualizar.php?idt=2264700