Fernando Dias Cyrino
Três tipos de energia movem as organizações: racional, emocional e ativa. Caso atuassem na mesma intensidade haveria equilíbrio, mas na prática uma delas se impõe e esse desnivelamento gera problemas. O Eneagrama é excelente ferramenta nesse propósito.
São vários os critérios usualmente empregados para se definir uma organização. A indústria à qual pertence, o modelo organizacional, o produto ou serviço prestado, seu controle acionário, a nacionalidade e tantos outros. Além desses há também a classificação das empresas a partir da energia primordial que é por elas gerada. Há três centros básicos de energia e cada instituição é geradora basicamente de uma delas. São os chamados Centros de Energia Racional, Emocional e Ativa. Ao identificarmos o Centro de Energia que move a instituição estaremos, automaticamente, classificando-as nesse critério.
As organizações não existem por si mesmas. São os seres humanos que as compõem que as concretizam. Dentre essas são as pessoas mais significativas, principalmente nos seus primeiros tempos de vida, que darão a elas a energia que a partir daí as constituirá. À medida em que esta nova organização cresce, os pioneiros buscarão mais gente e o normal é que tragam profissionais parecidos, aqueles que pensem sintam e ajam de forma semelhante, o que diminuirá a possibilidade de conflitos. Pessoas “parecidas” têm em comum o Centro de Energia e será esse Centro que será assumido pela empresa.
Ao definir sua energia a organização ganha uma identidade, o que é muito bom, mas também começa a viver em desequilíbrio. Esta energia, que é muito potente, é que moverá o pensar, sentir e agir de toda a gestão. Mas, ela não vem sozinha. A organização usará, abaixo dela, uma segunda energia como apoiadora da principal e esquecerá a terceira. Ela, por exemplo, será do Centro de Energia Racional, se apoiará no Centro de Energia Ativo e se esquecerá do Centro Emocional. Seu funcionamento é tal qual um tamborete com cada um dos pés de tamanho diferente.
Ressalte-se que há uma diferença entre as organizações e as pessoas em relação ao seu Centro de Energia. Os seres humanos não mudam o Centro primordial. O que acontecerá ao longo da existência é que têm a chance de desenvolver o Centro esquecido e de usar melhor o de suporte. Já as empresas poderão mudar de Centro. Mudanças profundas e radicais como um processo de turnaround, privatização, estatização, fusão e aquisição podem gerar novo Centro, não significando com isto que o problema do equilíbrio tenha sido solucionado. Quem sabe daí a uns anos o antigo Centro de Energia esteja totalmente esquecido e necessite ser reinstalado para haver de novo o balanceamento.
A identificação e o conhecimento do Centro de Energia é um passo importante para se compreender melhor os porquês dos acontecimentos e dificuldades empresariais. A partir daí poderão ser fixados e valorizados aqueles que lhes geram maiores resultados, ao mesmo tempo em que se poderão buscar defesas para as armadilhas nos processos que costumam levá-la a uma perda de valor.
O Centro de Energia funciona como motor da organização e é fundamental para a vida saudável dela. Nas suas opções estratégicas e mesmo nas do dia a dia, costumamos ver na sua liderança a cara explícita, ou um tanto oculta, da sua energia fundamental. Ao se optar por uma direção, automaticamente estarão sendo deixados de lado outros caminhos e é este descarte, sem levar em conta as riquezas dos Centros que vão sendo esquecidos, que aumenta ainda mais o desequilíbrio organizacional. Algumas características básicas das organizações a partir dos Centros de Energia são:
- Organizações Racionais: Não costumam ser afetivas. Ao contrário, parecem valorizar mais o formalismo das relações. Com isto terminam por se tornar bem hierarquizadas e com espaços muito claros e definidos. As equipes multidisciplinares e com maior autonomia não encontrarão grandes facilidades para se desenvolver. São excelentes planejadoras, mas devem tomar cuidados com eventuais excessos de cautela, quando da operacionalização do que foi programado. São desconfiadas e não se sentem muito à vontade com parcerias, ofertas de sinergia e outras formas de aproximação e colaboração com empresas ou gente de fora. Geralmente são lugares seguros para se trabalhar, pois não costumam ter movimentos bruscos. Tendem a ser sólidas e por isto passam à sociedade uma imagem de firmeza e segurança da qual sentem muito orgulho.
- Organizações Emocionais: Gostam de cuidar das pessoas, podendo nesse processo até incomodar por se tornarem excessivas e invasivas. “Aqui é um bom lugar para se trabalhar”, estão dizendo aberta ou implicitamente. Tendem a ser afetivas e nelas há muitas comemorações. Imagéticas, buscam a mídia e preocupam-se tremendamente com a maneira como estão sendo percebidas pelo mercado e a sociedade em geral. Têm dificuldades em lidar com as crises o que faz com que nelas possam se dar maiores estragos. Suas ações de pessoal não costumam primar pela valorização da competência e dos resultados. A amizade e o grupo podem ter peso nas escolhas. Várias delas gostam de chamar os empregados de colaboradores. Suas equipes são apoiadas e costumam funcionar bem, inclusive entre áreas diferentes. Arriscam a gastarem o melhor da sua energia nos meios, ficando em segundo plano o produto a ser buscado, o que gera perda de resultados. Investem muito no marketing e sabem bem esconder seus problemas que, mal tratados, ao surgirem podem estar já bem grandes. Estão sempre se movimentando e criando vínculos à volta. Suas atitudes muitas vezes geram dificuldades, mostrando ter havido ter havido pouco cuidado na análise racional dos fatos. Criativas, elas têm gosto pela inovação.
- Organizações Ativas: Sempre atentas ao seu mercado costumam ser ousadas e nos surpreendem com as suas ações. Quando se lançam vão à frente a toda velocidade e com toda força. Configuram-se em lugares de valorização do trabalho, do esforço e da superação. As organizações ativas são focadas no poder e por isto valorizam profissionais mais assertivos e fortes. Gente que não se contentará facilmente com o espaço organizacional que lhes foi passado e buscará aumentá-lo, o que será tácita ou explicitamente apoiado. Este aumento de área, caso não tenha havido o conseqüente crescimento da organização ocorrerá à custa da ampliação das fronteiras, o que é gerador de conflitos. Muito ágeis sua rapidez pode causar danos ao processo de planejamento, atropelando-o. Focadas totalmente no resultado final os meios até poderão ser deixados em segundo plano, o que poderá tornar seus erros muito caros. Sua agilidade, audácia e tremenda competitividade tornam-se marcas e referencial para as pessoas, mercado e sociedade em geral de quem são elas.
Uma ferramenta potente e eficaz para se conhecer mais como empresa viva e se recriar, a partir do Centro de Energia, é o Eneagrama. Trabalhar o Eneagrama propiciará a identificação do Centro preferido da empresa. Esse trabalho, que é feito no corpo diretivo e gerencial, vai além da identificação do Centro primordial da organização. Ele acompanha também a descoberta dos centros e tipos de cada um dos participantes do programa de desenvolvimento, apoiando as lideranças no seu crescimento a partir do que aprenderem sobre si mesmas. No plano organizacional estará patente que tipo de profissional está em falta e quais outros existem em excesso não precisando mais, no momento, serem buscados.
Organizações conhecedoras do seu Centro de Energia tomam consciência do seu desequilíbrio energético e ficam atentas a ele, tornando-se mais seguras e coerentes ao tomar ações para equilibrá-lo. Seu processo decisório será muito mais rico, pois todos terão voz e vez sem discriminações e em conseqüência os resultados virão mais consistentes. Com isto haverá a mudança da sua imagem, o que gerará o aumento da sua capacidade de atração e fixação dos melhores profissionais. E esses acorrerão e serão selecionados também pelo critério da manutenção do equilíbrio, evitando-se assim, como no início, a limitante entrada somente de semelhantes.